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terça-feira, 13 de abril de 2010

Cidadania ausente

O exercício da cidadania consiste na prática diária de pequenas e simples atitudes. Imensuráveis, porém, pela ótica daqueles que são os alvos dessas ações. Leiam com atenção o texto a seguir: “Quanto à matéria ‘Aposentado reclama de falta de fiscalização em vaga de idosos’, de 09/04, quero deixar registrado que isso ocorre também em supermercados. Há dias em que todas as vagas, de idosos e deficientes, estão ocupadas. Então, observando as pessoas que vão desocupando as referidas vagas, dá pra ver que nenhuma é idosa ou portadora de deficiência. O exercício da cidadania, nesta cidade, é, cada vez mais, mera quimera...”.
O pequeno exemplo acima é de um leitor e foi enviado através de e-mail, à redação da Gazeta, e agora reproduzido por mim na íntegra, mostrando a indignação de quem percebe e presencia esse tipo de desrespeito. Eu mesmo já tratei do tema por diversas vezes e, como o cidadão acima - que merece ser tratado de fato como cidadão, que conhece seus direitos, mas também percebe que tem deveres - testemunhei por vezes e pessoalmente essa soberba que rege a vida de algumas pessoas, que não percebem o quão nocivos seus atos são à sociedade. E a si mesmas.
O meu mais recente relato sobre essa total ausência de cidadania foi publicado na coluna Texto&Contexto do último dia 27 de março, quando tratei, em dois ou três tópicos, justamente da questão “vagas especiais” nas áreas de estacionamento público, no centro de Limeira, entre outros locais, como bancos, supermercados e shopping. Na oportunidade, além de mostrar a falta de educação e sensibilidade dessas pessoas, descrevi o perfil de uma “infratora” no interior de um varejão da cidade, que em nada se assemelhava aos indicativos da vaga: exclusivo para pessoas deficientes. Foi presencial. Assisti à cena do início ao fim.
Não há como não indignar-se com cenas como estas. Indignação que só aumenta à medida que se percebe a indiferença, o desprezo mesmo, de gente que se sente acima de tudo e de todos; de pessoas que desconhecem simples atos de solidariedade, que são práticas de consciência. O individual tem falado mais alto que o coletivo nesses últimos tempos. E gestos de cidadania são considerados falta de “esperteza” de quem os pratica. Ecos da chamada “lei de Gerson”. Alguém se lembra? “Eu gosto de levar vantagem, e você?”. Sem mais o que considerar, o que sobra mesmo é externar essa revolta. Ainda na manhã de sexta-feira, preparava-me para estacionar numa vaga normal na Rua Carlos Gomes, quando tão rápida como meu piscar de olhos, uma jovem mulher que vinha atrás e viu minha manobra simplesmente apoderou-se da vaga com seu veículo e com um sorriso vencedor fez-me um gesto de positivo. Sorri. Repeti seu gesto e apenas lamentei sua ignorância.

Antonio Claudio Bontorim

4 comentários:

Antônio disse...

Apenas uma correção na lei de Gerson: “Eu gosto de levar vantagem em tudo, e você?”

Já tive a oportunidade de chamar a atenção de uma senhora que estacionou seu carro no Enxuto, colocando seu carro em duas vagas para idosos. "A senhora deveria respeitar mais os velhinhos e não parar o carro em suas vagas." Lógico que não houve resposta...

Antonio Aguiar - Limeira

Antonio Claudio Bontorim disse...

Abrigado pela correção, amigo. É sempre bom termos leitores que nos ajudem, além de nos brindar com a leitura dos nossos escritos.
Um abraço!

Anônimo disse...

Oi, Claudio, meu amigo querido. Só reforçando a tal da "lei do Gerson"... como idosa que sou (vou fazer 6 ponto 3 semana que vem, rsrsrs) e deficiente física (tenho um pino no tornozelo esquerdo que limita minha marcha, irreversível), muitas vezes não encontro vaga para estacionar. E olhe que procuro pela de idosos, porque não julgo minha deficiência tão grave, até faço pequenas caminhadas, trabalho, etc. Vida normal. Mas idosa sou, e a única vantagem é ter vaga e lugar preferencial nas filas. Nunca consigo, quase, a última hipótese, mas sempre brigo. E com relação às vagas... é falta de cidadania, pura e simples. Revoltante. Dia desses, aqui no mercado Mix, perto de minha casa, um cidadão parou na vaga de DEFICIENTES. Fiquei de olho nele, que entrou e comprou uma lata de cerveja. Demorou pouco, mas não é pelo tempo, é pela absoluta falta de educação. Continue, meu querido, com sua luta em prol desses pequenos gestos, que nada custam. Trabalho de formigas, mas um dia quem sabe nossos netos ou bisnetos usufruirão uma cidade e um mundo mais habítável? Forte abraço.

Antonio Claudio Bontorim disse...

Cara Maria Rita!
Novamente presenciei, no domingo, no Varejão OBA, um cidadão, sadio, parando naquela vaga "Exclusiva" e com uso "Obrigatório" do selo no carro. Então, parece que muitas vezes não conseguimos atingir nosso objetivo. Mas não vamos esmorecer. Jamais. Vamos continuar lutando para que as pessoas entendam o significado da palavra Cidadania. E do que ela representa na vida e na história de um povo.

Abraços!