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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Da cueca à meia

Depois dos dólares na cueca, a moda agora é dinheiro na meia. Pelo menos foi o que um deputado distrital da Capital Federal fez, ao receber o seu pagamento no esquema (só agora parece estar sendo desmantelado) do governador José Roberto Arruda (DEM), de Brasília. O mesmo Arruda, que lá atrás, ainda no Senado, foi um dos responsáveis, juntamente com outro senador, o baiano Antonio Carlos Magalhães, à época no PFL (ainda não era Democratas), pelo escândalo da violação do painel de votação do Senado Federal. Ambos renunciaram para não serem cassados. Magalhães está morto e Arruda não aprendeu a lição.
Após as denúncias do mensalão, que envolveu toda a base aliada de Lula, um a um os algozes daquela empreitada, que queriam fazer o presidente “sangrar” até as eleições, estão caindo na mesma armadilha. E estão sentindo na própria pele tudo aquilo que por meses a fio provocaram ao governo do PT e à sua base aliada, até a reeleição, em segundo turno, do próprio Lula. Hoje, os arautos da idoneidade no período do mensalão, que se apresentavam como os salvadores da moral e bons costumes na política, estão eles próprios envolvidos em esquemas de propinagem e arrecadação de dinheiro.
O ex-governador mineiro e atual senador, Eduardo Azeredo (PSDB), com o chamado “mensalão mineiro” (que nada mais foi do que o embrião do mensalão federal, inclusive com os mesmos personagens), é o primeiro a sentir os efeitos do veneno destilado por seu próprio partido. E agora o democrata José Roberto Arruda, cujo partido “transpirava” ética por todos os poros, dá um claro sinal dessa contaminação, que se alastrou por todo o País.
A divulgação do fato por jornais e revistas, e cujos vídeos estão nos telejornais das emissoras de televisão e mostram seus protagonistas recebendo dinheiro vivo, e foi possível graças ao mecanismo da delação premiada de um dos homens de confiança do governador e envolvido no esquema, é mais que uma ferida aberta por essa infecção generalizada, que tomou conta da política nacional. É um forte indício da necessidade urgente de uma reforma política. Sem adiamentos!
Ninguém pode aceitar mais o uso da arte política como forma de enriquecimento ilícito justamente com o dinheiro público. Aquele que deveria ser empregado para gerar bem-estar social do cidadão e contribuir para o desenvolvimento das comunidades. É preciso esvaziar essa burra, para mostrar que o agente político tem o dever de servir àqueles que nele confiaram e não se servir do cargo, poder e prestígio para fazer aumentar seu patrimônio pessoal. E isso só será possível através de uma reforma política ampla e que não tenha medo de colocar no banco dos réus, caso necessário, um a um daqueles que se locupletaram da vida pública. E o primeiro passo para isso é tirar o foro privilegiado desses agentes, transferindo-o para a justiça comum e responsabilizando-os criminalmente pelas ilicitudes.

Antonio Claudio Bontorim

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