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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sem conspiração. Nem caça às bruxas

Não gosto e nunca gostei de teorias conspiratórias, nas quais possíveis vítimas tentam encombrir erros, imputando perseguição e ardis de segundos, terceiros e assim por diante. Muito utilizadas por políticos e agentes públicos (para acobertar falcatruas e desmandos), seus maiores beneficiários. Sou visceralmente contra a caça às bruxas, cujo objetivo é limpar obstáculos - muitas vezes indesejáveis mesmo - mediante perseguição. É uma figura de linguagem, que nos remete à Santa (nem tanto) Inquisição, quando discordar dos dogmas da Igreja era bruxaria e invariavelmente punida com a fogueira, que inquisidores e fanáticos chamavam de purificação da alma. Sentença cruel, para aliviar os próprios pecados dos religiosos e juízes, que precisavam manter privilégios e o domínio das massas, que lhes garantiam o poder.
Não é regra, mas invariavelmente uma precede a outra. Portanto, são quase irmãs gêmeas, pelas ligações que possuem. Enfim, capítulos tristes de uma conjuntura, que favorece a corrupção e a prevaricação sem limites. Causas de serviços públicos mal prestados e enriquecimento ilícito de seus executores.
Dois momentos distintos, mas com potencial poder destruidor, nos fazem refletir sobre essa questão. E ambos bem recentes em nossa memória. O horror que tomou conta da cidade de Santa Maria-RS, com o incêndio na boate Kiss; e o aumento do número de detidos, em decorrência de uma Lei Seca mais rígida, contra essa terrível irresponsabilidade de associar bebida alcoólica e direção. O incêndio na casa noturna já matou 237. E embriagados ao volante fazem vítimas todos os dias. Inclusive eles próprios. E mesmo assim continuam a "se armar", na busca pelo próximo alvo.
No caso gaúcho, já começam a surgir vozes a entoar o discurso dos "panos quentes", cuja alegação principal é a falta de opções de diversão e lazer, e que a onda de lacração de casas noturnas restringirá ainda mais o acesso a elas. Só que diversão e lazer não podem ser sinônimos de catástrofes. E o poder público tem a obrigação de fiscalizar, exigir e em não sendo contempladas essas exigências, fechar o espaço de aglomeração pública. Não é conspiração e nem caça às bruxas. Trata-se simplesmente da obediência às regras, que possam garantir qualidade nesses serviçõs. E tranquilidade às famílias. É preciso fiscalizar, sim, conforme manda a ocasião e punir com o rigor da lei todos os implicados nessas ocorrências, que marcam definitivamente um ciclo da vida de muita gente.
Quanto à Lei Seca mais rigorosa e de tolerância zero, é preciso que ação do policial que fiscaliza e prende os infratores seja ratificada nas instâncias superiores, reduzindo cada vez mais as brechas legais de infindáveis recursos que bons e hábeis advogados conseguem para liberar seus clientes, que às vezes ainda deixam a cadeia cambaleantes. Uma ação conjunta entre legisladores, juízes e Poderes Executivos. Ninguém propõe cercear a defesa e o direito ao contraditório. Também não é conspirar contra a happy hour nossa de cada dia. Nesse caso, algumas bruxas precisam perder definitivamente suas vassouras. Para evitar que façam mais estrepolias.  

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