Pages

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Da quebra relacional ao assédio moral

Lendo o artigo “Bullying no ambiente de trabalho”, de Luis Marins, ontem, remeteu-me a uma notícia curiosa, bizarra e até mesmo preocupante. Uma pequena - porém incisiva - nota policial publicada no último dia 6, por esta Gazeta e que mostra, claramente, algumas predisposições nas relações de trabalho, nas quais um empregador, ao se julgar dono de seu empregado e de suas vontades, extrapola da racionalidade que sua posição exige e banca simplesmente um feitor de chicote nas mãos. A analogia é pesada demais, mas faz sentido! O caso aqui não é de bullying, como prevê Marins, mas poderia ser enquadrado como tal.
“Patrão ameaça funcionária por pedir demissão”. Este era o título da notícia, que em pouco mais de sete linhas, contava a história de uma vendedora ameaçada por pedir demissão do emprego. Pelo relato do boletim de ocorrência, lavrado pela mulher, o fato - grave - tem um significado simbólico, de quanto as relações trabalhistas ainda são complicadas, quando na realidade deveriam ser uma troca de serviços a uma recompensa por remuneração regulamentada, com livre arbítrio para ambos os lados. Em muitos casos, infelizmente, não o é! E esse é um exemplo típico, como muitos outros que viraram informação jornalística, em especial sobre trabalho escravo, envolvendo empreiteiros de mão de obra e migrantes. Ou até mesmo crianças. Não só nos rincões brasileiros, mas também em estados desenvolvidos, como São Paulo, que ainda registra esse tipo de ocorrência. Muitas em nossa região, envolvendo a colheita de laranja. E em Limeira, no setor de folheados, como mostrou a Gazeta no último dia 5, um dia antes da curiosa história da demissionária vendedora.
No caso da vendedora que pediu demissão, sobre a qual estamos tratando aqui, tem a função de ilustrar como esse tipo de enfrentamento é de difícil solução, quando não há uma aceitação, pura e simples, da necessidade de uns contra a vontade de outros. Mais que uma tentativa de ameaçar fisicamente, há uma clara e objetiva intimidação psicológica, o que é muito mais grave. Nas relações envolvendo patrões e empregados, há direitos e deveres para os dois lados. E é sobre esse foco, que tudo deve ser resolvido. Não há o porquê de o empregador subjugar o empregado ou o empregado fazer valer direitos com ameaças ou chantagens. Está na falta de inter-relação entre as partes a melhor definição desse processo delicado, pois envolve seres humanos e, por isso, conflitos às vezes inevitáveis. Confiança mútua é a melhor forma para se contornar tais crises. Eliminá-las é impossível. Tudo o que sair dessa esfera é quebra relacional. Um atalho para o assédio moral!

Antonio Claudio Bontorim

1 comentários:

lovezutti disse...

Excelente matéria sobre assédio moral. No meu ambiente de trabalho o assédio é cometido abertamente e discaradamente, como se fosse um mundo à parte. Eu mesmo sou vítima desse mal. É como se eu trabalhasse em uma micro empresa ou microscópica empresa, mas eu trabalho no Banco do Brasil.