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terça-feira, 22 de março de 2011

Comemoração prematura

Na quinta-feira da semana passada, a Comissão de Reforma Política do Senado aprovou o fim da reeleição, ampliando os mandatos no Poder Executivo para cinco anos, do presidente da República aos prefeitos, passando pelos governadores. Apesar de ser somente o primeiro empurrão no carro de uma reforma necessária, que terá de percorrer um longo caminho pela frente, não temos ainda o que comemorar. Nada de foguetório, portanto, para que não se torne lá na frente mais um motivo de frustração. Como foi a manutenção do voto obrigatório no País, por medo “de eleger governantes por minoria expressiva”, segundo o senador mineiro, o tucano Aécio Neves. O que em minha opinião é um temor descabido, pois iriam às urnas os verdadeiros eleitores, aqueles que sentem prazer em escolher seu candidato. Os “brincalhões”, que elegem as tiriricas da vida e outros vegetais, certamente pensariam duas vezes. Esses poderiam continuar curtindo os domingos sem responsabilidade.
É preciso, na esteira desse debate, lembrar que a instituição da reeleição no Brasil, lá em 1997, foi um mero casuísmo do governo federal, para o benefício de apenas uma pessoa: o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que raciocinava mais com sua vaidade pessoal do que com sua consciência e vasta cultura social e política, que tinha. Ele praticamente impôs ao País, com um Congresso ao seus pés, sua vontade de continuar no poder. Situação que, após sua reeleição, só trouxe dissabores ao seu partido, que de 2002 para cá não conseguiu emplacar mais ninguém ao Palácio do Planalto. E, agora, esse desacerto precisa ser corrigido, garantindo-se, como está na proposta aprovada na Comissão, o direito a Dilma Rousseff concorrer em 2014, para não virar outro casuísmo. Então, só em 2018.
Isso posto, é preciso que haja um engajamento da sociedade nesse processo de recondução política desde agora, para que essa reforma não fique apenas nos gabinetes dos agentes políticos, deixando-os à vontade para decidirem o que apenas lhes interessar. Ainda há muita gente que não acredita que seja possível uma verdadeira reforma política, por que esta será feita por esses mesmos políticos, que terão de abrir mão de privilégios. Será que o farão? É preciso conclamar também os céticos à discussão, para que engrossem a pressão por uma reforma ampla e viável, como ponto de partida da moralização da vida pública nacional. Não se colhe frutos sem que se plante primeiro a semente, que precisa ser tratada com carinho até o início de sua germinação. Por isso não podemos comemorar prematuramente, pois ainda estamos selecionando essas sementes. Plantá-las será o próximo passo. O seu cultivo é uma responsabilidade da qual ninguém pode fugir.

Antonio Claudio Bontorim

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