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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Uma leitura diferente

A ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula, Dilma Roussef, foi confirmada no último sábado como pré-candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência da República. Trata-se, portanto, da primeira oficialização de um nome no ainda indefinido quadro eleitoral brasileiro, que aconteceu no terceiro dia do 4º Congresso do PT, em Brasília. É mais um passo à frente da situação, que há muito tempo colocou o nome da ministra na estrada da campanha (não oficial, é claro), enquanto a oposição esbarra numa perigosa indefinição (quase negação mesmo) de José Serra (PSDB), que apesar de todo esse charme ainda está à frente em todas as pesquisas pela principal cadeira do Palácio do Planalto.
É certo que pesquisa a pesquisa Serra perde pontos importantes - enquanto Dilma cresce na mesma proporção - e vê a pressão de seus principais aliados, DEM e PPS, aumentar por uma definição, que ele insiste em deixar para março. Na verdade, o tucano está ganhando tempo para decidir se concorre ou não na mesma raia da petista ou se vai à reeleição certa - e provavelmente em primeiro turno - ao governo de São Paulo. Ele faz por merecer a plumagem da indecisão, porém quer ter certeza de que ao entrar para a corrida presidencial tenha sua vitória assegurada. Prognóstico impossível neste momento, mas até há alguns meses era líquido e certo. Isso sem contar com os balões de ensaio, como as candidaturas de Marina Silva (PV) e Ciro Gomes (PSB), este último aliado petista de primeira linha.
Além de desagradar aos próprios correligionários e os outros dois partidos que o apoia, o governador José Serra insiste nessa estratégia, quase suicida, de protelar sua decisão. Dilma, enquanto isso, ganha espaços preciosos e vê todas as tentativas da oposição em enquadrá-la com o que chama de “campanha antecipada”, portanto ilegal, naufragar nas decisões técnicas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O calendário oficial, entretanto, não para de correr e já no dia 3 de abril, ministros de Estado, governadores, prefeitos e secretários das três esferas de Poder - federal, estadual ou municipal - têm que se afastar dos respectivos cargos. A escolha de todos os candidatos deve ocorrer entre 10 e 30 de junho e, daí para frente, começa a propaganda eleitoral de fato. O vale-tudo, mesmo, das eleições de 2010.
A verdade é que nada está definido. Nem mesmo a candidatura Dilma ainda é certa, como venho dizendo desde que seu nome foi lançado. Assim como o sonho de ver o governador mineiro, Aécio Neves, sair a vice na chapa de Serra. Opção negada peremptoriamente pelo próprio Aécio. Como em política toda negação pode ser uma afirmação e vice-versa, fica mais essa dúvida no ar. À medida que Lula afia sua língua e vê ao crescimento de sua candidata, a oposição não tem discurso e projeto definidos. E, aflitos, seus líderes ficam à mercê do humor de Serra, que só deve mudar quando março chegar, torcendo para que não seja tarde demais.

Antonio Claudio Bontorim

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