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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O primeiro passo

Hoje, terça-feira gorda - como costumavam dizer os antigos, devido ao feriado de carnaval, que na realidade nunca foi oficializado, embora oficial - o País respira ares diferentes. Uma brisa que sopra justiça, frescor para amenizar esse clima quente que estamos vivendo. E em três diferentes conjunturas: a primeira, o clima atmosférico, propriamente dito; a segunda, o clima do carnaval, que está pelas horas restantes de hoje e mais um pouquinho quarta-feira adentro e a terceira, e mais importante delas, o clima político, que também está quente. Principalmente em Brasília, o Distrito Federal (DF) e Capital da República.
Depois de dois mensalões ainda mal resolvidos - o primeiro do PT e o segundo do PSDB, não necessariamente nessa ordem - esse terceiro, agora do DEM do DF, está tomando novo rumo. E o que deveria ter acontecido lá atrás (quando o ex-deputado Roberto Jefferson soltou sua voz contra o PT, José Dirceu e séquito petista e o embrião de tudo, que envolveu o senador tucano, o ex-governador mineiro Eduardo Azeredo) começa a ganhar forma com o escândalo brasiliense, que envolveu o governador José Roberto Arruda (sem partido) e vários deputados distritais (todos do Democratas), com a prisão, na última quinta-feira, 11, do suposto chefe do esquema, ou seja, o próprio Arruda em decisão da Corte Especial do Supremo Tribunal de Justiça (STJ). Apesar de esperada, surpreendente, diga-se.
Tal sentença abre uma nova página na história do Brasil. Uma página clara e muito bem escrita, que pode significar o início de um momento salutar na vida deste País, tão acostumado às impunidades, envolvendo os ‘colarinhos-brancos’. Aos privilégios, que sempre beneficiaram a classe política nacional que, além de todos os defeitos e com raras exceções algumas qualidades, é corporativa. Autoprotetora. Mais intensa, ainda, e no dia seguinte à histórica resolução do STJ, foi a negativa do habeas corpus impetrado pelos advogados do governador brasiliense no Supremo Tribunal Federal (STF). A posição do ministro Marco Aurélio Mello, em negar a liberdade a José Roberto Arruda, só veio a corroborar com essa expectativa do povo brasileiro, de que a justiça precisa ser feita. E tinha que começar um dia. E foi justamente com um exemplo marcante, a prisão de um governador de Estado, até então inimaginável. Arruda passa o carnaval tomando café de canequinha!
É preciso, entretanto, muita cautela ao comemorar essa refrescante brisa a nos soprar à consciência. Muito ainda está por vir, mesmo porque a legislação brasileira é cheia de saídas e escapes. De caminhos tortuosos e muito bem conhecidos pelos advogados e utilizados, conforme garante a Constituição Federal, nessas situações. É, contudo, o simbolismo dessas ações que devemos brindar. E esperar que sejam cada vez mais comuns daqui para frente. Um primeiro, mas decisivo passo rumo ao fim da impunidade. E uma lição à classe política, acostumada a dar de ombros a tudo e a todos. A “se lixar” para a opinião pública!

Antonio Claudio Bontorim

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