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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Os “gersons” de hoje

Uma antiga propaganda de cigarros, de cujo nome não me lembro agora - também não faz a menor diferença neste caso - e trazia como personagem principal o jogador Gerson, tricampeão com a seleção brasileira no México, em 1970, criou o bordão “eu gosto de levar vantagem em tudo, certo”, que saindo da boca do “canhotinha de ouro”, como era conhecido o craque de futebol, era um convite, nada sério diga-se, à busca de privilégios.
Estava, portanto, (isso em meados da década de 1970), decretada a “lei de Gerson”. Que ficou tão famosa como o personagem que emprestava sua imagem a ela. Caiu no gosto popular, apesar da mensagem negativa que passava. Ou seja, levar vantagem a qualquer custo, mesmo que sobre o seu semelhante e de forma nada ortodoxa. Ainda não havia uma consciência formada sobre os males do fumo e nem se discutia isso abertamente. Podia-se, então, além de a frase remeter àquela determinada marca, se utilizar sempre de algum expediente pouco comum e, com isso, passar para trás um amigo, um colega de trabalho, enfim, alguém próximo - ou não tão próximo assim - e que não vislumbrou aquela saída como forma de conquistar alguma coisa.
Estou me utilizando desse expediente, do recurso de uma lembrança, mas que ainda é bem atual, como introdução, para trazer à tona a lei de Gerson e poder, com essa analogia às avessas, enumerar os muitos “gersons” que encontramos no nosso dia a dia. E o que é pior, que não se importam nem um pouco com isso. E fazem questão de mostrar que “gostam de levar vantagem em tudo”. Mesmo que para isso alguém esteja sendo prejudicado. Esteja sendo tolhido em seu direito.
Vemos diariamente todos eles, no trânsito, nas filas dos bancos, na busca pelos serviços públicos e, de forma indireta, quando utilizam terceiros para alcançar o seu objetivo, o chamado apadrinhamento político.
Quero focar essa crítica, entretanto, no desrespeito ao idoso e ao portador de necessidades especiais, sobre os quais mais se aplicam a nefasta lei. E que cotidianamente veem seus direitos desrespeitados de forma acintosa. E o exemplo mais típico e corriqueiro vem dos estacionamentos em áreas públicas (ruas, avenidas e outros logradouros) e privadas (bancos, supermercados, lojas, etc.). Dificilmente se veem as vagas destinadas a idosos e deficientes, desocupadas. Os veículos invariavelmente não têm adesivos que os identifiquem como tais e basta um exercício de paciência, à espera da saída de seus proprietários, para ver que não se enquadram nessas categorias. E, se percebem que alguém os está observando, fingem que não é com eles. Não fumam o cigarro do Gerson (que talvez nem exista mais) e talvez sequer conheçam a propaganda. Na semana passada pude observar vários desses “gersons” e suas baforadas de desrespeito.

Antonio Claudio Bontorim

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