Pages

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A motosserra como consciência ambiental

É extremamente preocupante os dados apresentados por esta Gazeta, em manchete, no último domingo, sobre os pedidos de remoção de árvores em Limeira. São, conforme as informações da Secretaria do Meio Ambiente, em matéria da jornalista Karla Gigo, 35 solicitações diárias. E o que é mais assustador ainda, segundo o biólogo Rogério Mesquita, diretor do Departamento de Áreas Verdes, é a constatação dos motivos relacionados às remoções: sujeira na calçada, causada pela queda de folhas e flores, e cidadãos que procuram a sombra para estacionar seus veículos. É bom lembrar que calçadas e ruas são de uso público e pleitear a retirada de uma árvore para que o vizinho não mais estacione no local é uma falta de sensibilidade para com o meio ambiente, que está bastante degradado em Limeira. E faz muito tempo. Assim como em outras cidades também.
O Município, que já foi considerado um dos mais arborizados do País, entre as décadas de 1970 e 1980, hoje é carente do verde proporcionado pela vegetação urbana. O processo de comprometimento da saúde de muitas espécies, que é, esse sim, motivo para que sejam removidas, é muito mais visível que a reposição das plantas arrancadas. E quando essa reposição existe, a ação de vândalos – ou mesmo de moradores das áreas replantadas – impede o bom desenvolvimento das mudas. O que é um crime ambiental, assim como a poda por conta própria, sem notificação à Prefeitura, que também não leva ao criminoso nenhuma punição, devido à falta de fiscais e mesmo de uma participação mais engajada da própria população, denunciando esses atos de depredação.
A consciência ambiental, hoje, está mais nas ações de grupos organizados, muitas vezes hostilizados pela própria sociedade e tachados de inimigos do progresso, e nas atuações de órgãos públicos – que são muito tímidas em relação ao que deveria ser – que tentam mostrar os benefícios de que quanto mais verde melhor. E que folhas, flores e sombra são características desse verde e não representam incômodo nenhum. Não é sujeira, mas uma reciclagem natural de cada árvore, que se renova a cada estação climática.
O Planeta vive uma escassez de florestas – principalmente os países de clima tropical, como o Brasil - exploradas pelo extrativismo sem controle de madeira e pelo agronegócio, que provoca queimadas em extensas áreas de mata natural, que nada respeita e também não faz a devida reposição das áreas desmatadas (a recém-aprovada legislação ambiental brasileira contemplou essa degradação, ao facilitar a ação dos grandes produtores e pecuaristas). E a questão local, no que diz respeito aos números apresentados por Mesquita, é um mero reflexo dessa falta de conscientização, muito mais preocupada com a urbanidade de pedra do que com um simples exemplar de uma árvore que, entre outros benefícios, contribui com a dosagem de agentes poluentes na atmosfera, melhoria climática e, por consequência, com a própria saúde do ser humano. Talvez se o cidadão canalizasse seus esforços para cobrar ações efetivas do Poder Público, em vez de pedir poda de árvores, estaria contribuindo de forma efetiva para melhorar a sua qualidade de vida. 

0 comentários: