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terça-feira, 2 de julho de 2013

O legado de junho e suas consequências

Junho se foi e, com ele, uma mudança no quadro político-administrativo brasileiro. De prefeitos e governadores a presidente da República, todos, indistintamente, experimentaram quedas expressivas em suas popularidades. E fica, também, a evidência de que alguns interesses se concentraram apenas em capitalizar as derrapadas de adversários, antes de voltar atenções para essa nova pintura que pinceis ávidos por transformações começam a esboçar, em traços fortes e bem definidos. Há nesse processo, ainda, incrédulos e analistas que tentam teorizar sem ouvir o que de fato dizem as vozes das ruas, pela inexperiência de nunca terem compostos em trincheiras como as que foram escavadas lá em meados do junho, por um grupo de jovens que protestavam contra o aumento nas tarifas dos transportes públicos sem as devidas melhorias na qualidade desses serviços. Manifestos já conhecidos de outras épocas históricas e por conotações também distintas das de hoje.
Fico me perguntando, desde que os primeiros jovens saíram às ruas na capital paulista, até então empunhando uma única bandeira reivindicatória, como se deu tamanha catarse? Que envolveu posteriormente a população e se expandiu rapidamente por outros estados, chegando aos municípios e também à capital federal? Confesso desconhecer uma resposta plausível. Prática. E que defina claramente essa "rebelião" popular. Só não valem, para definir os propósitos dessa massa que a cada dia agrega mais volume, teorias descritivas de movimentos políticos sociais, utilizadas por pensadores de laboratório, que nem sequer sabem que cheiro tem a tinta de um cartaz pintado com uma frase qualquer, que represente o descontentamento e a impaciência de cada cidadão, que foi se unindo em novas manifestações.
Por vários momentos, enquanto a configuração do movimento passava por atualizações rápidas e cada vez mais ousadas, questionei também a origem desse grito uníssono por uma nova ordem e postura no enfrentamento aos problemas nacionais. E as respostas - desta vez as tive - estavam no desespero estampado nos rostos dos agentes políticos, que estupefatos se perderam no labirinto que eles próprios construíram, para manutenção de um status de poder já nem tão sólido quanto antes. Estavam na correria em dar uma satisfação imediata às bandeiras reivindicatórias desfraldadas - agora mais complexas e pontuais - por um povo até então silencioso. Quase conformado. Confesso que cheguei até a avaliar que estávamos diante de um modismo, amparado pela Primavera Árabe e outros movimentos que se irromperam pela Europa.
Como junho se foi e as vozes continuam fortes, é preciso entender que há solidez nesse movimento. Uma avaliação que deveria pautar, daqui para frente, as próprias instituições político-partidárias para uma reciclagem imediata, sob o perigo de verem ruir, cada vez mais seus próprios alicerces. Nem PT e PSDB escaparam ilesos e agora correm atrás de um prejuízo, que só não foi maior, porque ainda há tempo para uma revisão nos seus próprios valores, para sintonizar seus sentimentos com os sentimentos populares. Qualquer antecipação na campanha eleitoral, a partir de agora, soará como oportunismo. E fomentará esse abalo, sentido pela queda de popularidade.

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