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segunda-feira, 29 de julho de 2013

“Prefiro o barulho de uma imprensa livre ao...

...silêncio das ditaduras”. Quem não se lembra desta frase, pronunciada por Dilma Rousseff (PT), durante seu primeiro discurso, assim que foi declarada eleita presidente do Brasil, em segundo turno, naquele 31 de outubro de 2010? Parece-me que a vereadora Erika Monteiro, também do PT, não se lembra mais das palavras da presidente. Ou então ela prefere o silêncio das ditaduras ao barulho da imprensa livre. Pelo menos essa é a impressão que fica depois de seu "discurso", durante evento interno, que alinhou a coligação que elegeu Paulo Hadich (PSB) à Prefeitura de Limeira. Amplamente exposta na mídia e muito bem analisada pela jornalista Renata Reis, em sua coluna Percepções, nesta Gazeta, o tema não se encerra tão facilmente, como pretende a vereadora com sua tentativa de resposta. Principalmente por que o adjetivo por ela utilizado - nefasto - para caracterizar e generalizar jornalistas e meios de comunicação, que têm opinião contrária à sua ou apontam as mazelas do governo Hadich foi lamentável. Está longe dos ensinamentos da democracia e do exercício dessa democracia, que tanto devemos prezar.
Pelo livre arbítrio
Não é o primeiro e nem será o último político, com cargo eletivo e na defesa de um governo, a se utilizar de argumentos dessa natureza para criticar a imprensa. Não que a imprensa não mereça críticas (todos nós estamos sujeitos a elas), mas a tentativa de demérito para com o trabalho dessa mesma imprensa é inaceitável. O direito ao livre expressar do pensamento é um preceito constitucional.  
Um claro equívoco
Esse tipo de postura apresentado pela vereadora petista não contribui para a melhoria do governo ao qual defende. Nem política ou administrativamente. Só vai provocar mais desgaste ainda. Principalmente pelo fato de estarem nas críticas - e não publicação "de inverdades", como afirma - a melhor forma para que se possam corrigir os desvios de percurso. Tudo aquilo que deveria, mas não é feito.
Provocação óbvia
Pelo que tenho acompanhado e por minha própria atuação profissional na mídia limeirense, como jornalista e a analista, há um descompasso entre as palavras de Erika Monteiro e a realidade. Com raríssimas exceções, tudo o que se escreve e se comenta sobre a atual administração deveria, sim, provocar uma reflexão mais apurada entre seus defensores para que, com a necessária humildade, possam repensar algumas ações. A discordância de opinião, o contraditório, nunca é nefasto. Em nenhum sentido. É a essência do exercício da política.
Vazão às críticas
Posturas autoritárias não têm coloração ideológica. Elas advêm da necessidade de o agente público ou político em se justificar por atos e práticas nem sempre compatíveis com a demanda da comunidade.
Redobrar atenções
Sempre que a liberdade de imprensa e o preceito constitucional do livre expressar do pensamento são maculados, é preciso que a sociedade fique atenta. Por trás de afirmações e desmentidos ou justificativas para o famoso "eu não disse o que disse", há um perigo iminente aos princípios republicanos e democráticos. Principalmente se nesse contexto há um expressa vontade em buscar reações para o cerceamento dessa liberdade. Toda e qualquer tentativa para calar a imprensa resulta na formação de estados totalitários, cuja principal característica é desrespeito às liberdades individuais. Não é compatível mais com este Século XXI. 
Um problema sério
Dentre os assuntos que bombaram na mídia nos últimos dias, além dessa ofensiva contra a imprensa, a questão envolvendo a Vigilância Sanitárias e supermercados que maquiam e adulteram a data de validade de carnes merece também uma atenção especial. Isso quando não deixam nas gôndolas carnes estragadas e mal cheirosas. Trata-se de uma questão de saúde pública. Aqueles que tratam da questão como mais uma alternativa ao lucro fácil estão colocando em risco a vida de muita gente. Isso deveria ser enquadrado como crime inafiançável.  
Consumidor atento
Quem deve conhecer o poder da própria escolha são os próprios consumidores, pois não há melhor meio de fiscalização que a denúncia. E quem deve agir com o rigor da lei é a Vigilância Sanitária, elaborando uma lista dos supermercados vistoriados com aqueles que mais cometeram esse tipo de fraude contra o consumo popular. E à mídia cumpre divulgar essas informações como serviço de utilidade pública. Sem uma ação efetiva e conjunta dessa natureza, há riscos de a qualquer momento esse tipo de ação criminosa se transformar em fatalidade. 
E tem boi na linha
Outro tema que continua na pauta das discussões é a questão dos subsídios ao transporte público urbano em Limeira, que culminou com o anúncio de redução da ordem de R$ 0,10 na tarifa cobrada hoje. Por mais que a Prefeitura tente, ainda não ficou bem explicada essa questão. Tratar a gratuidade aos idosos como fonte de perda de lucratividade das empresas de ônibus e razão para falta de investimentos no setor está longe de justificar a opção pelo subsídio. Não convenceu.
Pergunta rápida
Quando as administrações públicas deixarão de tratar o transporte público como tabu?
Culpa da imprensa
A notícia de que o novo prédio - ainda não inaugurado - da biblioteca municipal sofreu outras ações de vandalismo não me surpreende. Em matéria publicada nesta Gazeta no última terça-feira, dia 23, a jornalista Daíza Lacerda mostra a reincidência da ação dos vândalos ao prédio que custou mais de R$ 3 milhões ao erário público. Fui, em artigo publicado nesta coluna, no dia 12 de março (O desperdício da não continuidade), o primeiro a tratar do assunto. Retomado também por mim no dia 20 de abril, após a publicação da primeira matéria sobre a depredação, da mesma jornalista. Essa triste constatação - e de outras tantas obras paradas - penso, é que deveria nortear o trabalho dos vereadores, em vez de tentarem desmerecer o trabalho de uma imprensa que vem mostrando todos esses descasos.
Nota curtíssima
Espera-se que o tema sobre a regulação da mídia não entre na próxima pauta da Câmara, assim que retomar seus trabalhos.
Lenta e gradual
O papa Francisco está encerrando hoje sua visita ao Brasil, onde participou da Jornada Mundial da Juventude. O pontífice flertou com os ideais da Teologia da Libertação, porém não deixou o conservadorismo da Igreja de lado. Até ratificou esse conservadorismo. Ainda que tímidos, há sinais de mudança na relação entre a Igreja e o povo.
Frase da semana
"Esperar do papa uma ruptura com o dogma católico é burrice". Título de um artigo do jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, sobre a visita do papa Francisco ao Brasil. Publicado ontem, 27, na Folha de S. Paulo.

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