...silêncio das ditaduras”. Quem não se lembra desta frase, pronunciada
por Dilma Rousseff (PT), durante seu primeiro discurso, assim que foi
declarada eleita presidente do Brasil, em segundo turno, naquele 31 de
outubro de 2010? Parece-me que a vereadora Erika Monteiro, também do PT,
não se lembra mais das palavras da presidente. Ou então ela prefere o
silêncio das ditaduras ao barulho da imprensa livre. Pelo menos essa é a
impressão que fica depois de seu "discurso", durante evento interno,
que alinhou a coligação que elegeu Paulo Hadich (PSB) à Prefeitura de
Limeira. Amplamente exposta na mídia e muito bem analisada pela
jornalista Renata Reis, em sua coluna Percepções, nesta Gazeta, o tema
não se encerra tão facilmente, como pretende a vereadora com sua
tentativa de resposta. Principalmente por que o adjetivo por ela
utilizado - nefasto - para caracterizar e generalizar jornalistas e
meios de comunicação, que têm opinião contrária à sua ou apontam as
mazelas do governo Hadich foi lamentável. Está longe dos ensinamentos da
democracia e do exercício dessa democracia, que tanto devemos prezar.
Pelo livre arbítrio
Não é o primeiro e nem será o último político, com cargo eletivo e na
defesa de um governo, a se utilizar de argumentos dessa natureza para
criticar a imprensa. Não que a imprensa não mereça críticas (todos nós
estamos sujeitos a elas), mas a tentativa de demérito para com o
trabalho dessa mesma imprensa é inaceitável. O direito ao livre
expressar do pensamento é um preceito constitucional.
Um claro equívoco
Esse tipo de postura apresentado pela vereadora petista não contribui
para a melhoria do governo ao qual defende. Nem política ou
administrativamente. Só vai provocar mais desgaste ainda. Principalmente
pelo fato de estarem nas críticas - e não publicação "de inverdades",
como afirma - a melhor forma para que se possam corrigir os desvios de
percurso. Tudo aquilo que deveria, mas não é feito.
Provocação óbvia
Pelo que tenho acompanhado e por minha própria atuação profissional na
mídia limeirense, como jornalista e a analista, há um descompasso entre
as palavras de Erika Monteiro e a realidade. Com raríssimas exceções,
tudo o que se escreve e se comenta sobre a atual administração deveria,
sim, provocar uma reflexão mais apurada entre seus defensores para que,
com a necessária humildade, possam repensar algumas ações. A
discordância de opinião, o contraditório, nunca é nefasto. Em nenhum
sentido. É a essência do exercício da política.
Vazão às críticas
Posturas autoritárias não têm coloração ideológica. Elas advêm da
necessidade de o agente público ou político em se justificar por atos e
práticas nem sempre compatíveis com a demanda da comunidade.
Redobrar atenções
Sempre que a liberdade de imprensa e o preceito constitucional do livre
expressar do pensamento são maculados, é preciso que a sociedade fique
atenta. Por trás de afirmações e desmentidos ou justificativas para o
famoso "eu não disse o que disse", há um perigo iminente aos princípios
republicanos e democráticos. Principalmente se nesse contexto há um
expressa vontade em buscar reações para o cerceamento dessa liberdade.
Toda e qualquer tentativa para calar a imprensa resulta na formação de
estados totalitários, cuja principal característica é desrespeito às
liberdades individuais. Não é compatível mais com este Século XXI.
Um problema sério
Dentre os assuntos que bombaram na mídia nos últimos dias, além dessa
ofensiva contra a imprensa, a questão envolvendo a Vigilância Sanitárias
e supermercados que maquiam e adulteram a data de validade de carnes
merece também uma atenção especial. Isso quando não deixam nas gôndolas
carnes estragadas e mal cheirosas. Trata-se de uma questão de saúde
pública. Aqueles que tratam da questão como mais uma alternativa ao
lucro fácil estão colocando em risco a vida de muita gente. Isso deveria
ser enquadrado como crime inafiançável.
Consumidor atento
Quem deve conhecer o poder da própria escolha são os próprios
consumidores, pois não há melhor meio de fiscalização que a denúncia. E
quem deve agir com o rigor da lei é a Vigilância Sanitária, elaborando
uma lista dos supermercados vistoriados com aqueles que mais cometeram
esse tipo de fraude contra o consumo popular. E à mídia cumpre divulgar
essas informações como serviço de utilidade pública. Sem uma ação
efetiva e conjunta dessa natureza, há riscos de a qualquer momento esse
tipo de ação criminosa se transformar em fatalidade.
E tem boi na linha
Outro tema que continua na pauta das discussões é a questão dos
subsídios ao transporte público urbano em Limeira, que culminou com o
anúncio de redução da ordem de R$ 0,10 na tarifa cobrada hoje. Por mais
que a Prefeitura tente, ainda não ficou bem explicada essa questão.
Tratar a gratuidade aos idosos como fonte de perda de lucratividade das
empresas de ônibus e razão para falta de investimentos no setor está
longe de justificar a opção pelo subsídio. Não convenceu.
Pergunta rápida
Quando as administrações públicas deixarão de tratar o transporte público como tabu?
Culpa da imprensa
A notícia de que o novo prédio - ainda não inaugurado - da biblioteca
municipal sofreu outras ações de vandalismo não me surpreende. Em
matéria publicada nesta Gazeta no última terça-feira, dia 23, a
jornalista Daíza Lacerda mostra a reincidência da ação dos vândalos ao
prédio que custou mais de R$ 3 milhões ao erário público. Fui, em artigo
publicado nesta coluna, no dia 12 de março (O desperdício da não continuidade), o primeiro a tratar do assunto. Retomado também por mim
no dia 20 de abril, após a publicação da primeira matéria sobre a
depredação, da mesma jornalista. Essa triste constatação - e de outras
tantas obras paradas - penso, é que deveria nortear o trabalho dos
vereadores, em vez de tentarem desmerecer o trabalho de uma imprensa que
vem mostrando todos esses descasos.
Nota curtíssima
Espera-se que o tema sobre a regulação da mídia não entre na próxima pauta da Câmara, assim que retomar seus trabalhos.
Lenta e gradual
O papa Francisco está encerrando hoje sua visita ao Brasil, onde
participou da Jornada Mundial da Juventude. O pontífice flertou com os
ideais da Teologia da Libertação, porém não deixou o conservadorismo da
Igreja de lado. Até ratificou esse conservadorismo. Ainda que tímidos,
há sinais de mudança na relação entre a Igreja e o povo.
Frase da semana
"Esperar do papa uma ruptura com o dogma católico é burrice". Título de
um artigo do jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, sobre a visita
do papa Francisco ao Brasil. Publicado ontem, 27, na Folha de S. Paulo.
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