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domingo, 7 de julho de 2013

De FHC a Dilma, ninguém bancou reformas

Há neste momento pós-manifestações - ainda há focos, mas partem de empresários do transporte de cargas, que insuflam seus motoristas - e as que ainda persistem e não devem mesmo ser interrompidas, uma carga de críticas expressiva sobre a presidente Dilma Rousseff (PT), muitas delas que precisam ser revistas, tomando-se como base a história política recente deste País. Uma hipocrisia sem memória, que quer jogar em seu colo todas as mazelas deste País. Sabe-se, que muito além dos objetivos reais das manifestações, há uma descrença generalizada com a classe política, que também veio à tona a partir do histórico mês de junho. E se a situação chegou a esse ponto, é preciso rever também um pouco do passado, desde a primeira eleição direta para presidente da República, que elegeu Fernando Collor. Daquele período para cá (até um pouco antes, com o primeiro governo civil herdado de Tancredo por Sarney)  nenhuma  reforma política foi feita. E a nova ordem democrática assim exigia. Saía-se de um período de exceção, mas a base política era a mesma. De FHC a Lula tudo passou em branco.

Não era com eles?
Como numa sequência cronológica e tomando-se o exemplo das manifestações públicas, não dá para eleger um, dois, três ou quantos culpados forem, mas dá para rever alguns conceitos críticos e buscar também as falhas dos oito anos de mandato de FHC e dos outros oito de Lula. Esboços de reformas políticas passaram por esses gabinetes presidenciais, mas o empenho dos dois presidentes foi nulo.

Agora as ruas pedem
Ora, se ambos, o sociólogo - e hoje imortal das letras - e o metalúrgico que se tornou o primeiro presidente da República vindo dos movimentos sindicais e sociais, fizeram vistas grossas e aceitaram o jogo corporativo de líderes políticos e parlamentares, não levando adiante propostas modernizadoras à política nacional, são os primeiros que devem fazer um "mea culpa", pois foram coniventes com isso.

As regras do jogo
Se com Collor não houve tempo para pensar no assunto, pois nem base política ele tinha e com seu sucessor, Itamar Franco, a Presidência foi flagrada em ritmo de samba ao lado de uma atriz sem calcinha, FHC e Lula poderiam ter mudado tudo isso. O ex-presidente tucano, pela sua formação e referência mundial, que era, tinha por obrigação trazer a política ao eixo da ética. E nos oito anos seguintes, com o petista na presidência, cuja proposta deveria ser renovadora e a ética era uma bandeira, esperava-se a conclusão desse processo. Nada feito.

Está bom? Que fique
Vale lembrar que toda essa situação a tirar o sono dos brasileiros, tem origem nessa estrutura política fisiológica e clientelista e ninguém quis, até hoje, abrir mão dela. As alianças estão aí como prova disso tudo.  

É preciso encarar
Muitos vão me questionar por que essa análise num momento de transformações. É simples, se hoje vivemos uma expectativa real de mudanças, não as tivemos em todo esse período de redemocratização, a partir do fim da ditadura militar. Se o regime de governo mudou, a mudança mais importante, justamente a da estrutura política, não veio e os vícios são os mesmos. Apoio em troca de cargos e verbas. E até mesmo lobbies nada republicanos. E foram justamente FHC e Lula que tiveram as melhores oportunidades para isso. O bonde passou. Continuaram apostando no toma lá, dá cá. E gora não há mais clima nesse sentido.

O mérito de Dilma
E antes de imputar toda a culpa dessa confusão à Dilma Rousseff, que avançou o sinal em alguns pontos, é bom reconhecer o mérito da presidente, que jogou a discussão no ventilador. Foi a partir de suas primeiras declarações após o auge dos protestos, que muitos políticos se ligaram e perceberam que precisavam capitalizar também o momento, criticando-a - como fez a oposição - ou defendendo-a, como fez alguns de seus aliados diretos. A oposição, hoje, não indica perigo. Mas o fisiologismo da base aliada do governo e o próprio PT, sim.

Protestos esvaziados

Deixando o plano nacional, trazendo-o para o local, por aqui os manifestos se esvaziaram rapidamente. E para isso tenho uma explicação: assim como houve espontaneidade nas convocações via redes sociais, algumas pessoas em Limeira tentaram partidarizar o movimento. Eu havia previsto essa partidarização a partir das próprias redes sociais, o que acabou acontecendo. E os protestos viraram simplesmente um movimento de contestação política à administração Paulo Hadich (PSB) e, dessa forma, perdeu sua força inicial e isolou seus propósitos.  

Iniciativa importante
E no oceano de problemas que o prefeito enfrenta, a audiência pública sobre o transporte público, na quinta-feira, na Câmara Municipal, parece ter sido proveitosa. Entendo que foi um passo importante e sólido para melhorias no sistema, hoje um dos mais questionados em Limeira. Uma prestação de contas que a atual administração estava devendo, para mostrar que o trabalho está sendo executado. As cobranças, às vezes, deixam de ser objetivas e se tornam apenas política.

Pergunta rápida
A oposição tem propostas concretas para Limeira ou apenas discurso?

Ações transparentes
Assim como muitos municípios brasileiros estão fazendo, Limeira também precisa abrir essa caixa-preta, em que se transformou o transporte urbano. Para isso é preciso vontade política e, principalmente, coragem para enfrentar todos os lobbies do segmento. Durante a audiência pública sobre o tema, percebeu-se que a população está bem informada sobre as questões que envolvem as empresas do setor. Os usuários dos ônibus se transformam, assim, nos melhores especialistas e que precisam ser ouvidos mais vezes. É o interesse público que deve nortear as ações nesse sentido e não a simples lógica dos lucros. Isso é consequência. 

Nota curtíssima
O PSDB está em momento Rubens Ricúpero. Lembram-se? Aquele do "que é bom a gente divulga, o que não é esconde".

Para não esquecer
Vou terminar com esta nota, pois é necessário o registro. Na última quinta-feira, ao descer pela Carlos Gomes, Praça Toledo de Barros, parei na faixa de pedestre próxima da Conselheiro Saraiva, para dar passagem a uma família. Pai, mãe e uma criança estavam atravessando, quando simplesmente outro veículo - um Ecosport cinza - passou em alta velocidade e quase atropelou as três pessoas. A motorista tinha ampla visão e mesmo assim avançou. Irresponsabilidade que quase mata.

Frase da semana
"Dilma é a primeira líder mundial a ouvir as ruas". Manuel Castells, sociólogo espanhol e maior especialista em movimentos sociais nascidos na internet. Na quarta-feira, dia 3. Em entrevista à revista IstoÉ.

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