Após os oito anos do governo Lula, em que o ex-líder operário transformado em presidente da República soube usar - e às vezes abusar - de seu carisma e força midiática (que tinha e ainda tem), parece-me estranho o governo discreto e austero de Dilma Rousseff. Longe dos holofotes e de forma técnica e hábil, a ex-guerrilheira está impondo um estilo diametralmente oposto ao de seu antecessor e padrinho político e já no primeiro mês de governo apresentou a marca de seu governo, que parece surpreender muita gente. Em especial a uma ineficiente oposição, que esperava um continuísmo cego aos preceitos e dogmas lulistas, mas está percebendo continuidade na gestão. Ela está absorvendo as conquistas de seu mentor e já começa a sentir um terreno fértil às suas próprias.
Dilma teve - e está tendo - habilidade para enquadrar sua heterogênea base de apoio com recados duros, porém claros, à fome dos partidos aliados por cargos no governo. Desde o primeiro escalão até a terceira ou quarta linha em importância na administração pública federal. Há, hoje, no governo, indubitavelmente, mais técnicos que políticos. Mais que isso, a presidente eleita está tendo o cuidado em colocar técnicos nas áreas técnicas e políticos nas áreas políticas. O equilíbrio que talvez tenha faltado a Lula, que por conta disso sofreu enormes solavancos nos seus dois mandatos, contidos justamente pela presença carismática do líder metalúrgico nos momentos de maior tensão pelos quais passou. Lula advogou para Lula e se saiu muito bem. Dilma provavelmente não passará por esse constrangimento.
Com a aposentadoria precoce, via urnas, dos mais aguerridos oposicionistas e um encolhimento substancial no número de parlamentares contrários à administração petista, a impressão é que a presidente não terá enormes dificuldades em fazer aprovar suas propostas. Ela pode e ainda vai ter algum problema, sim, com seus próprios pares políticos, inclusive e até mais com os de seu próprio partido, mas que até agora está conseguindo controlar e manter a rédeas curtas. Difícil precisar até quando isso vai durar. Mesmo porque o PMDB, que detém a vice-presidência, e também faz parte da base governista, é pouco confiável.
Difícil fazer, pelo pouco tempo da posse, análise mais criteriosa e pragmática do que vai ser o governo Dilma Rousseff, a não ser as considerações feitas acima, compartilhadas por analistas políticos de primeira linha. Se o cartão de visita apresentado ditar as ações futuras da presidente, as expectativas podem ser muito boas.
Antonio Claudio Bontorim
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
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