Os votos foram de paz, esperança, felicidade e prosperidade. Mas o ano de 2010 começou sobre o signo da tragédia para milhares de famílias. Tragédia provocada pela força da natureza, que não perdoa as ofensas do homem, marcadas principalmente pela ganância e pelo imediatismo de suas ações, que não têm vista para o futuro. Que não contempla as gerações que virão. Uma herança que teima em não fazer parte de nenhum testamento. Por mais importante e valiosa que seja.
E nesses “milhares de famílias” não estou incluindo apenas a catástrofe acontecida em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, que foi a mais midiática e comoveu pelas histórias. A abrangência é muito maior e começa bem antes da virada do ano, no Jardim Pantanal, na cidade de São Paulo, até chegar ao interior e bem próximo de nós, no município de Capivari, que vem sofrendo desde o mês de dezembro com as fortes e contínuas chuvas, que estão desalojando, desabrigando e matando, sem dó nem piedade. E tantos outros como Guararema, São Luís do Paraitinga e Cunha. Só para citar os casos mais recentes no Estado de São Paulo.
Enquanto a Conferência para o Clima na Dinamarca, a COP15, discutia o sexo dos anjos e não chegava a nenhuma decisão para amenizar as investidas criminosas do ser humano ao meio ambiente - que vem causando o descontrole climático e essas mudanças bruscas no tempo -, municípios inteiros já estavam ilhados, levando desespero e tristeza a centenas de milhares de famílias, que perderam tudo o que tinham, ficando apenas com a roupa do corpo. E casas inteiras que ficaram debaixo d’água. Algumas por estarem próximas de zonas ribeirinhas e outras pela falta de investimento público em saneamento, que não contempla ações e políticas sociais para a prevenção de enchentes. Não dá votos. São obras que não aparecem, mas de grande alcance por tudo o que podem definitivamente evitar.
O caso mais emblemático é o do Jardim Pantanal, na Zona Leste da capital paulista. Localizado na várzea do Rio Tiete fica difícil imaginar como loteadores conseguem licença e autorização para comercializar áreas e terrenos nessas regiões, tornando o sonho da casa própria em pesadelo de se ver, de repente, sem nada. E o irreparável dano à auto-estima, além da perda financeira, pelo dinheiro investido. Com aval da especulação imobiliária e chancelado por prefeituras, que não enxergam problemas, apenas ai soma do IPTU arrecadado dos novos contribuintes. Um desenvolvimento, a qualquer preço, que não se ajusta à sustentabilidade.
Esse é o tipo de desaforo que a natureza não aceita. Como não deixa impune, também, agressões praticadas como aquelas nas encostas de Ilha Grande, que do fomento ao turismo em áreas paradisíacas e selvagens acabam por se transformar na dor daqueles que queriam apenas desfrutar dessas belezas naturais. São pequenos exemplos, que vão se transformando em grandes desgraças. E se multiplicando. Por aqui e além-mar. O futuro pouco importa!
Antonio Claudio Bontorim
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
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