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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Maldição ancestral

A manchete do jornal Opinião, da vizinha Araras, do último dia 17 de janeiro, faz encher de inveja qualquer prefeito: “Desenvolvimento industrial: 54 empresas estão na lista de espera por um lote em Araras”. O município, segundo entrevista da secretária de Desenvolvimento Econômico, Isabel Jerusa Tófolo, ao jornal, não tem áreas disponíveis para doar a esses empreendimentos, por que não há recursos financeiros disponíveis na Prefeitura para aquisição dos lotes de terra.
Araras tem, hoje, em dados da contagem populacional de 2007, pouco mais de 108 mil habitantes, ou seja, cerca de 1/3 da população limeirense. E se dá ao luxo de divulgar uma lista de espera de investimentos de mais de meia centena de empresas, mas vê a boa notícia esbarrar, entretanto, na falta de dinheiro, reconhecida pelo poder público, o que demonstra sinceridade política, sem a preocupação em esconder a situação. Muitos transformariam uma notícia dessa natureza em propaganda e marketing político, sem se preocupar com o futuro ou atentar para uma possível inviabilidade do negócio. Só para refrescar a memória: Nova América-Worksheep.
E Limeira? Poderia se dar a esse luxo? A resposta é bastante clara: uma empresa aqui, outra ali e três distritos industriais praticamente parados, com pouco mais de meia dúzia de empresas, algumas em construção e outras abandonadas; áreas que a Prefeitura anuncia a compra, cujas plantas não desempacam. Muita publicidade e pouca prática. Não há, infelizmente, essa cultura por aqui e nem infraestrutura suficiente para atrair novos empreendimentos. Um vício, que vem desde o final da década de 1960 e início da de 1970, quando aqui aportou a última grande empresa. E uma benevolência em permitir a fuga de investimentos para municípios vizinhos. Alguém se lembra da Good Year? De como ela foi parar em Americana, na divisa com Limeira, quando aqui deveria estar? Alguém se lembra qual foi a última grande empresa a chegar a Limeira? E quando? Vou deixar essa questão para um exercício de memória aos limeirenses mais experientes.
De lá para cá, e mesmo durante a alternância de poder entre os grupos de Jurandyr Paixão e Paulo D’Andréa, foram anunciados distritos industriais - alguns até com certa pompa - mas que nunca saíram das maquetes. Quando esse entre e sai foi quebrado, em 1996, os anúncios continuaram. A prática revelou, entretanto, ser outra. Tal como uma maldição de uma antepassado, nada sai do lugar, quando o assunto é distrito industrial. Enquanto isso, Iracemápolis, Araras, Piracicaba foram se fartando, pela sonolência limeirense. Difícil saber se falta planejamento ou vontade política. Ou sabe-se lá o que de podre cheira tão mal nesse reino encantado.
Hoje a situação continua a mesma. Solta-se muito foguete para pouca festa, enquanto observamos sentados, num indesejado camarote, a região progredir. Se em 2006 a Prefeitura anunciou 27 novas empresas, em 2010 nem um terço do anúncio foi concretizado. E Araras quer apenas lotes para atender à sua lista de espera.

Antonio Claudio Bontorim

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