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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

2015, um ano que ainda não começou

É costume no Brasil – e vem de longe – dizer que o ano só começa após o carnaval. Hoje é a chamada terça-feira gorda, um feriado que é sem nunca ter sido. Ou seja, oficialmente ele não existe, mas todos o guardam religiosamente. E marca, também, o último dia da folia, que neste ano está de pijama em vez de fantasia, para, a partir de amanhã, Quarta-Feira de Cinzas, o ano começar de fato. Apesar de discordar desse adágio, é fato que nesse período todo o brasileiro empurra suas expectativas para após o entrudo, como à espera de um milagre. Um toque mágico que possa resolver todos os seus problemas, para poder afirmar que “agora vai’. Mas não é o que está acontecendo. Será preciso muito mais que fincar o pé no chão, para, de fato, fazer 2015 andar.
E isso não pessimismo. É uma pretensa realidade, que está estampada todos os dias nas páginas dos jornais e é levada ao ar em horário nobre, através das redes de televisão. E martelada diariamente pelas emissoras de rádio. Enfim, a mídia é a porta-voz oficial dessa desesperança, que vem afetando o dia a dia de todos nós. Um exagero aqui, outro ali e muitos interesses políticos acolá, também entram nessa catastrófica pauta que se abate sobre o ânimo dos brasileiros. Um buraco que pode surgir à nossa frente a qualquer momento. E do jeito que está sendo escavado, torna-se um verdadeiro precipício sem escalada de volta possível. Pelo menos é uma impressão que muitos querem passar, como que dizendo um “eu avisei que ia acontecer”. E se seu aviso não foi levado tão a sério assim, é porque também não tinha a oferecer para a salvação de um moribundo. Nem tanto o céu, nem tanto o inferno. O purgatório é suficiente.
Quando digo que não é pessimismo, é justamente o que quero dizer. Não acredito que a receita ideal possa ser aviada por ninguém neste momento, nem por quem está com o paciente nas mãos e nem por quem está querendo tratá-lo de fora. O que dá para garantir é que não é doença terminal. Basta apenas acertar no diagnóstico e, daí sim, começar o tratamento. E, com certeza, será um tratamento demorado e doloroso, com sacrifícios para todos os lados. E é justamente nesse ponto que há uma quebra na cadeia de soluções, quando um dos lados não está disposto a experimentar esse amargo remédio. Ou não quer ministrar a dose certa. Não sei, o ano começa de fato amanhã. Acredito que ainda está longe de seu início, porque 2014 ainda não acabou. Quando todos perceberem que é preciso enterrar o que passou, dando adeus ao ano velho, talvez a razão possa falar mais que qualquer interesse. Tanto de quem está dentro e não quer sair como de quem está fora e quer entrar. Difícil mesmo é pedir uma volta à razão a quem tem dificuldade em lidar com ela.
A desesperança, que citei no início deste texto, é fruto apenas de um embate entre forças antagônicas, mais preocupadas em exibir o próprio umbigo, em vez de despir-se da arrogância.

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