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terça-feira, 30 de julho de 2013

As novas mídias e a mediocridade

É sempre interessante - e proveitoso - retomar os debates sobre o uso das redes sociais na consolidação da democracia. Na construção da política como ciência e verdadeira arte do bem governar os povos. Em que pesem as manipulações, erros ou acertos das informações que por elas circulam segundo a segundo, a sua melhor contribuição consiste justamente no fato de se deslocar em um espaço livre, no qual o confronto de ideias dá a verdadeira dimensão daquilo que representam. Uma reação em cadeia, que traz a reboque outras discussões, como as que tratam sobre direitos e responsabilidades.
A partir do momento em que mais pessoas podem expor aquilo que pensam e se exporem publicamente através dessas mídias (ou novas mídias, como são definidas), que cada vez mais caem no gosto popular, cria-se uma interação estratégica para atrair grupos de simpatizantes, que invariavelmente rendem também os críticos. E é essa força de aglutinação de pensamentos antagônicos a garantia do exercício pleno da liberdade de expressão. Distante dos interesses das mídias convencionais, que são reguladas por uma linha editorial próxima aos grupos que representam, mas com objetivos semelhantes, essas redes sociais vêm contribuindo de forma determinante para a formação de uma opinião pública mais engajada, a ponto de reunir centenas de milhares em manifestações públicas, como as ocorridas no último mês de junho, que deram início a uma nova ordem política - muitos ainda duvidam dessa força e até menosprezam tais propósitos - que não têm mais volta. Uma semente que não caiu em solo árido, mas na fértil capacidade do homem em moldar suas convicções. Uma força que não pode mais ser desprezada.
Isso posto, sobra espaço à utilização dessas redes como palanque político. Nada mais justo e democrático que grupos de diferentes matizes ideológicos e partidários também usufruam desse ambiente virtual de disseminação de ideias e façam uso dele para a defesa de suas propostas. Há, entretanto, uma clara divergência entre as correntes políticas, no que diz respeito à forma de utilização dessa ferramenta de comunicação. Há uma confusão clássica entre o que é divergir e o que é denegrir, que destoa definitivamente do debate sério e focado no interesse público e parte para um confronto hostil pela busca do poder a qualquer custo.
O que tenho percebido e, isso me chamou a atenção para escrever este artigo, é que os objetivos desse "palanque virtual" estão muito mais voltados à desconstrução da ordem vigente do que propriamente a uma perspectiva em agregar projetos e valores, pois fica cada vez mais claro que eles não existem. Ou são requentados na panela do saudosismo. E o que é mais curioso ainda, não há distinção na atuação de nenhum dos lados beligerantes. Situação e oposição - e também os adjacentes - atacam e contra-atacam ao mesmo tempo e confundem a cabeça do cidadão comum, que fica cada vez mais descrente com a política e os políticos. É preciso que os partidos e seus simpatizantes repensem suas estratégias, para que não transformem as redes sociais num palanque viciado pela mediocridade de interesses pessoais.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

“Prefiro o barulho de uma imprensa livre ao...

...silêncio das ditaduras”. Quem não se lembra desta frase, pronunciada por Dilma Rousseff (PT), durante seu primeiro discurso, assim que foi declarada eleita presidente do Brasil, em segundo turno, naquele 31 de outubro de 2010? Parece-me que a vereadora Erika Monteiro, também do PT, não se lembra mais das palavras da presidente. Ou então ela prefere o silêncio das ditaduras ao barulho da imprensa livre. Pelo menos essa é a impressão que fica depois de seu "discurso", durante evento interno, que alinhou a coligação que elegeu Paulo Hadich (PSB) à Prefeitura de Limeira. Amplamente exposta na mídia e muito bem analisada pela jornalista Renata Reis, em sua coluna Percepções, nesta Gazeta, o tema não se encerra tão facilmente, como pretende a vereadora com sua tentativa de resposta. Principalmente por que o adjetivo por ela utilizado - nefasto - para caracterizar e generalizar jornalistas e meios de comunicação, que têm opinião contrária à sua ou apontam as mazelas do governo Hadich foi lamentável. Está longe dos ensinamentos da democracia e do exercício dessa democracia, que tanto devemos prezar.
Pelo livre arbítrio
Não é o primeiro e nem será o último político, com cargo eletivo e na defesa de um governo, a se utilizar de argumentos dessa natureza para criticar a imprensa. Não que a imprensa não mereça críticas (todos nós estamos sujeitos a elas), mas a tentativa de demérito para com o trabalho dessa mesma imprensa é inaceitável. O direito ao livre expressar do pensamento é um preceito constitucional.  
Um claro equívoco
Esse tipo de postura apresentado pela vereadora petista não contribui para a melhoria do governo ao qual defende. Nem política ou administrativamente. Só vai provocar mais desgaste ainda. Principalmente pelo fato de estarem nas críticas - e não publicação "de inverdades", como afirma - a melhor forma para que se possam corrigir os desvios de percurso. Tudo aquilo que deveria, mas não é feito.
Provocação óbvia
Pelo que tenho acompanhado e por minha própria atuação profissional na mídia limeirense, como jornalista e a analista, há um descompasso entre as palavras de Erika Monteiro e a realidade. Com raríssimas exceções, tudo o que se escreve e se comenta sobre a atual administração deveria, sim, provocar uma reflexão mais apurada entre seus defensores para que, com a necessária humildade, possam repensar algumas ações. A discordância de opinião, o contraditório, nunca é nefasto. Em nenhum sentido. É a essência do exercício da política.
Vazão às críticas
Posturas autoritárias não têm coloração ideológica. Elas advêm da necessidade de o agente público ou político em se justificar por atos e práticas nem sempre compatíveis com a demanda da comunidade.
Redobrar atenções
Sempre que a liberdade de imprensa e o preceito constitucional do livre expressar do pensamento são maculados, é preciso que a sociedade fique atenta. Por trás de afirmações e desmentidos ou justificativas para o famoso "eu não disse o que disse", há um perigo iminente aos princípios republicanos e democráticos. Principalmente se nesse contexto há um expressa vontade em buscar reações para o cerceamento dessa liberdade. Toda e qualquer tentativa para calar a imprensa resulta na formação de estados totalitários, cuja principal característica é desrespeito às liberdades individuais. Não é compatível mais com este Século XXI. 
Um problema sério
Dentre os assuntos que bombaram na mídia nos últimos dias, além dessa ofensiva contra a imprensa, a questão envolvendo a Vigilância Sanitárias e supermercados que maquiam e adulteram a data de validade de carnes merece também uma atenção especial. Isso quando não deixam nas gôndolas carnes estragadas e mal cheirosas. Trata-se de uma questão de saúde pública. Aqueles que tratam da questão como mais uma alternativa ao lucro fácil estão colocando em risco a vida de muita gente. Isso deveria ser enquadrado como crime inafiançável.  
Consumidor atento
Quem deve conhecer o poder da própria escolha são os próprios consumidores, pois não há melhor meio de fiscalização que a denúncia. E quem deve agir com o rigor da lei é a Vigilância Sanitária, elaborando uma lista dos supermercados vistoriados com aqueles que mais cometeram esse tipo de fraude contra o consumo popular. E à mídia cumpre divulgar essas informações como serviço de utilidade pública. Sem uma ação efetiva e conjunta dessa natureza, há riscos de a qualquer momento esse tipo de ação criminosa se transformar em fatalidade. 
E tem boi na linha
Outro tema que continua na pauta das discussões é a questão dos subsídios ao transporte público urbano em Limeira, que culminou com o anúncio de redução da ordem de R$ 0,10 na tarifa cobrada hoje. Por mais que a Prefeitura tente, ainda não ficou bem explicada essa questão. Tratar a gratuidade aos idosos como fonte de perda de lucratividade das empresas de ônibus e razão para falta de investimentos no setor está longe de justificar a opção pelo subsídio. Não convenceu.
Pergunta rápida
Quando as administrações públicas deixarão de tratar o transporte público como tabu?
Culpa da imprensa
A notícia de que o novo prédio - ainda não inaugurado - da biblioteca municipal sofreu outras ações de vandalismo não me surpreende. Em matéria publicada nesta Gazeta no última terça-feira, dia 23, a jornalista Daíza Lacerda mostra a reincidência da ação dos vândalos ao prédio que custou mais de R$ 3 milhões ao erário público. Fui, em artigo publicado nesta coluna, no dia 12 de março (O desperdício da não continuidade), o primeiro a tratar do assunto. Retomado também por mim no dia 20 de abril, após a publicação da primeira matéria sobre a depredação, da mesma jornalista. Essa triste constatação - e de outras tantas obras paradas - penso, é que deveria nortear o trabalho dos vereadores, em vez de tentarem desmerecer o trabalho de uma imprensa que vem mostrando todos esses descasos.
Nota curtíssima
Espera-se que o tema sobre a regulação da mídia não entre na próxima pauta da Câmara, assim que retomar seus trabalhos.
Lenta e gradual
O papa Francisco está encerrando hoje sua visita ao Brasil, onde participou da Jornada Mundial da Juventude. O pontífice flertou com os ideais da Teologia da Libertação, porém não deixou o conservadorismo da Igreja de lado. Até ratificou esse conservadorismo. Ainda que tímidos, há sinais de mudança na relação entre a Igreja e o povo.
Frase da semana
"Esperar do papa uma ruptura com o dogma católico é burrice". Título de um artigo do jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, sobre a visita do papa Francisco ao Brasil. Publicado ontem, 27, na Folha de S. Paulo.

domingo, 14 de julho de 2013

Demissão sem aviso prévio. Para aprender...

Quando um trabalhador não corresponde às expectativas da empresa onde atua, seja por baixa produtividade ou desleixo profissional, ele está fadado a perder seu emprego. E será invariavelmente substituído por outro, que possa corresponder às necessidades daquela atividade fim. Da mesma forma deve-se encarar o agente público com cargo eletivo. Para manter seu posto ele deve atender aos anseios daqueles que o elegeram. Se é o contribuinte - o cidadão - quem paga a conta política neste País, bancando os salários desses agentes públicos eleitos para representá-lo, todos estão, portanto, hierarquicamente na condição de servidores, de empregados do povo. E da mesma forma que na iniciativa privada, quando deixa de atender aos objetivos de sua função, não resta outra alternativa a não ser destituí-lo do cargo para ao qual foi eleito. E a maneira de demonstrar esse descontentamento e dizer que o político não fez o seu trabalho como todos esperavam, é não reconduzi-lo à função. Destituí-lo do poder, mostrando através do voto que ele não exerceu o trabalho como deveria; que não tem mais competência para tal.

Prerrogativa única
O País está vivendo um momento diferente. De despertar para seus reais interesses e, pelo andar da carruagem, muitos desses "empregados do povo" devem sofrer na pele pela falta de competência demonstrada no exercício da profissão e pelo simples descompromisso com os interesses públicos. Não há mais dúvidas de que eles começam a ser vistos com olhos mais críticos de um patrão exigente. 

É hora de renovar
Os contratos de trabalho que a maioria tem até outubro de 2014 pode ser revogado. O ritmo pode ser de demissão em massa e por justa causa. Uma seleção mais rigorosa, conforme esses novos tempos exigem, precisa pautar a escolha de seus substitutos, que já devem entrar preparados para uma cobrança maior ainda. E pelo medo estampado em seus rostos, sabem que perderam a confiança.   

Interesse público?
Apesar de a demonstração que alguns vêm dando, ao atenderem às demandas populares, na tentativa de se redimirem dos erros, a desconfiança deve falar mais alto daqui para frente. Arraigou-se a partir do momento em que o povo percebeu que tem o poder nas mãos. E ao se sujeitar às justas pressões das ruas acabam reconhecendo que se desviaram do caminho o qual deveriam percorrer. Ulisses Guimarães costumava dizer que o que mais causa medo aos políticos é o povo. O mesmo povo que elege e pode conceder-lhe a demissão.  

Respirando fundo
A partir da percepção desse novo momento, os partidos políticos - todos eles - têm obrigação de passar por uma revisão ética; tentar resgatar a confiança perdida, pois da maneira como estão não podem ficar.

Nada como um ...
...dia atrás do outro. Desde que os manifestos começaram lá em meados de junho, venho analisando o processo da falência partidária atual, a partir da negação à sua participação nos protestos. Não puderam levantar suas bandeiras - fisicamente falando - durante as marchas pelo não aumento nos preços da passagem de ônibus e pela melhoria na qualidade do transporte público. Esses mesmos partidos que gostam de tomar iniciativas populares para si ou delas se aproveitarem se viram às margens desse processo, o que acabou preocupando todos aqueles que fazem da política partidária a sua profissão de fé. Foram pegos de surpresa.

Confirma-se tudo
Com a chamada "mobilização nacional" proposta para a última quinta-feira, 11 de julho, por entidades e centrais sindicais, corrobora-se tudo o que afirmei na nota anterior. Como são movimentos ligados a partidos políticos, tiveram pouca adesão e praticamente não incomodaram ninguém, a não ser um ou outro entrevero, esses sim provocados também por baderneiros. E com uma infraestrutura de fazer inveja. Carros de som, balões, trios elétricos e comícios, divididos entre ataques e defesas ao governo. O movimento estudantil capitalizou mais.

O tom corporativo
Costumo dizer que tudo o que é corporativo acaba no fracasso. E agora o partidário também. Da mesma forma como ocorreu com o protesto dos médicos, a chamada mobilização nacional nada mais fez do que fechar alguns corredores de tráfego. Não chamou a atenção, como ocorreu com o Movimento Passe Livre e nem precisou de fortes esquemas de segurança. De igual, mesmo, apenas o vandalismo cometido por alguns. Nos primeiros protestos, a depredação ao patrimônio público. Nesses de agora, a queima de pneus em rodovias.

Amarrando a ideia
Mais uma vez ficou bastante clara a fragilidade da política partidária. Não há mais espaço para esse modelo atual, no qual a preocupação é manter o status quo do poder, sem pensar no público. No interesse da população, que definitivamente se cansou da falta de propostas. Também não podemos pensar na ausência desses partidos, que acaba implicando perigoso retrocesso ao autoritarismo. São esses partidos que precisam pensar no que fazer daqui para frente, além do discurso.

Pergunta rápida
Quem incomoda mais ao governo neste momento é a base aliada ou a oposição?

Ventos favoráveis
Parece que finalmente a Prefeitura resolveu se mexer e, se saírem do papel, duas obras importantes devem ter início em Limeira. A primeira, divulgada por esta Gazeta na última quinta-feira, mas sem anúncio oficial, trata da retomada da duplicação da Limeira-Cordeirópolis. E a outra, também relevante, trata-se do projeto de construção do novo Fórum, às margens do anel viário, parado há cinco anos. Esta segunda já com anúncio oficial do poder público, em parceria com o Estado. A primeira há muito reclamada, pela segurança dos motoristas. E a segunda, para desafogar o atual Fórum. Que os ventos daquele moinho parado e construído na gestão passada em área particular (está fechado e sendo vandalizado) sopre na direção correta. Boas notícias da semana que passou.

Nota curtíssima
Não sei por que, mas Aécio Neves está mais para Fernando Collor de Mello, do que para Fernando Henrique Cardoso.

Parada rapidinha
Vou dar um tempo por aqui nos próximos dez dias. Entro em período de férias, para dar um descanso também aos leitores. Esta coluna deixa de ser publicada entre os dias 16 e 25 de julho. Texto&Contexto volta à normalidade no próximo dia 28 de julho, um domingo. Um abraço a todos e até lá então.

Frase da semana
"Médico deve ser obrigado a atuar no SUS". Do médico Mário Saad, diretor e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sexta-feira, 12. Na Folha de S. Paulo.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Um debate justo
A política sem discussão não é política. Por isso, sempre critiquei a cooptação dos poderes legislativos pelos executivos. Nesses casos não há coloração ideológica e quem tem a oportunidade a utiliza com interesse claramente político. Tudo gira em torno da vontade do "chefe". Foi bastante explorada na gestão Sílvio Félix (PDT), até o líder cair em desgraça no Ministério Público (MP). E a história volta a se repetir agora. Essa unilateralidade de forças joga o debate ao chão.

Rebeldia à vista
A questão é saber até quando os vereadores da situação estarão dispostos a votar contra seus próprios princípios, pela "folga" na base. As cobranças começaram e a qualquer momento muitos estarão divididos entre sua base eleitoral e o projeto político da atual administração. Resta saber qual voz será a mais alta ou ouvida.

Aposta perigosa
A base governista na Câmara de Limeira é numericamente superior à oposicionista. Na prática são 15 vereadores contra cinco, excluindo-se o presidente da Casa, que não vota, o que elevaria essa base para 16 parlamentares. Embora em muitas oportunidades os cinco parlamentares joguem apenas para a plateia, não se deve subestimar o barulho que fazem.

E tome retórica
A reforma política ideal é aquela que acaba com todos os privilégios, que hoje provoca uma relação desigual entre eleitores e eleitos. Entre o cidadão comum e a classe política. Sem deixar pedra sobre pedra. Não acredito que alguém esteja disposto a bancá-la como deve, de fato, ser feita. Mais uma vez...

A bola é minha

Agora o PSDB quer o fim da reeleição. Tema que faz parte de um dos pontos propostos pela Executiva tucana para a reforma política. Lembre-se, entretanto, que foi o PSDB a bancar a PEC da reeleição, em 1997. Ainda não se sabe a que cu$to foi aprovada, para satisfazer o ego de FHC, mas ficou claro que muitos beneficio$ circularam entre parlamentares à época. É mais ou menos assim: quando o time do dono da bola está perdendo, ele a toma para si e volta para casa.

Proposta legal
Apesar das circunstâncias, o fim da reeleição acaba com distorções de representatividade política. Já em 1997 se se fizesse uma consulta popular sobre o tema, o eleitor com certeza votaria contrário a ela. Pode sim, ampliar em um ou dois anos os mandatos executivos, mas sem reeleição. É por ai que deve começar.

A última de hoje
São tantos os problemas críticos em Limeira, que não quero que minhas críticas sejam recorrentes. Portanto, hoje não vou criticar nada por aqui.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Está na hora de tirar as raposas do galinheiro

Há muita gente apostando no fim das manifestações de protestos, que ganharam as ruas no último mês de junho. Muitos são os interesses, principalmente políticos e de dirigentes partidários, em abafar o som pesado que veio das ruas País afora, para tentar conter o ímpeto popular e continuar zombando com a cara do cidadão, fazendo dele apenas um instrumento para suas ambições políticas. Aliás, e para bom entendedor uma vírgula é o suficiente, é nesses momentos que aproveitadores travestidos com o manto da ética costumam se mostrar com mais desenvoltura na tentativa de capitalizar seguidores. Trata-se de um conceito muito utilizado em décadas passadas, mas arraigado num conservadorismo tão óbvio, que não percebem esses exploradores o quão ridículos são.
Tenho uma opinião muito particular - e posso estar enganado e quem sabe até me enganando com isso - de que a calmaria deste momento não reflete no futuro, pois os ouvidos atentos e os olhos bem abertos dos milhares de pessoas, que deixaram a comodidade de lado e ocuparam espaços públicos para mostrar tamanha insatisfação, foi só o primeiro rastilho de pólvora aceso em suas consciências. A fagulha não se apagará tão facilmente a ponto de interromper esse rastilho. O espanto estampado nos rostos de governantes e legisladores (da presidente da República a governadores e prefeitos; de senadores e deputados, que viram seus medos refletidos também nos vereadores) mostrado à exaustão pela mídia, vai ficar como sinal de alerta, para que esse momento tão particular seja duradouro.
Muito se escreveu e vai se escrever ainda sobre esse levante, que de forma espontânea tomou conta de mentes engajadas e corações impacientes, no sentido de tentar defini-lo como manda os mais conceituados tratados filosóficos e teorias, calcados em históricas revoltas populares conhecidas ao longo do desenvolvimento da própria humanidade. Com certeza não conseguirão chegar a um denominador comum, devido à própria naturalidade com que surgiu, através de um movimento que cobrava melhorias no transporte público urbano na capital paulista sem onerar o minguado bolso do usuário. E é justamente essa sinceridade de propósito, sem apego a partidos ou lideranças preestabelecidas, que mais está tirando o sono de teóricos de gabinete e daqueles que têm muito a perder politicamente com o emergir dessa percepção popular. Que preconceituosos de plantão também não zombem dessa força, como passageira ou sem consequências posteriores.
Estamos atingindo quase o primeiro mês do estopim que desencadeou todo esse processo e, mesmo assim, não conseguimos esgotar o tema, que parece estar cada vez mais vivo, ganhando contornos de ordem expressa à pauta daqueles que comandam os destinos da Nação. As vitórias até aqui conquistadas pela pressão que veio desse "brado retumbante" são ínfimas, se comparadas ao que falta para a consolidação da verdadeira democracia. É preciso saber que aqueles que, assustados, cedem aos apelos populares, são justamente os mesmos que levaram o Brasil ao descaminho. Que 2014 leve essas raposas para bem longe do galinheiro. Definitivamente.

domingo, 7 de julho de 2013

De FHC a Dilma, ninguém bancou reformas

Há neste momento pós-manifestações - ainda há focos, mas partem de empresários do transporte de cargas, que insuflam seus motoristas - e as que ainda persistem e não devem mesmo ser interrompidas, uma carga de críticas expressiva sobre a presidente Dilma Rousseff (PT), muitas delas que precisam ser revistas, tomando-se como base a história política recente deste País. Uma hipocrisia sem memória, que quer jogar em seu colo todas as mazelas deste País. Sabe-se, que muito além dos objetivos reais das manifestações, há uma descrença generalizada com a classe política, que também veio à tona a partir do histórico mês de junho. E se a situação chegou a esse ponto, é preciso rever também um pouco do passado, desde a primeira eleição direta para presidente da República, que elegeu Fernando Collor. Daquele período para cá (até um pouco antes, com o primeiro governo civil herdado de Tancredo por Sarney)  nenhuma  reforma política foi feita. E a nova ordem democrática assim exigia. Saía-se de um período de exceção, mas a base política era a mesma. De FHC a Lula tudo passou em branco.

Não era com eles?
Como numa sequência cronológica e tomando-se o exemplo das manifestações públicas, não dá para eleger um, dois, três ou quantos culpados forem, mas dá para rever alguns conceitos críticos e buscar também as falhas dos oito anos de mandato de FHC e dos outros oito de Lula. Esboços de reformas políticas passaram por esses gabinetes presidenciais, mas o empenho dos dois presidentes foi nulo.

Agora as ruas pedem
Ora, se ambos, o sociólogo - e hoje imortal das letras - e o metalúrgico que se tornou o primeiro presidente da República vindo dos movimentos sindicais e sociais, fizeram vistas grossas e aceitaram o jogo corporativo de líderes políticos e parlamentares, não levando adiante propostas modernizadoras à política nacional, são os primeiros que devem fazer um "mea culpa", pois foram coniventes com isso.

As regras do jogo
Se com Collor não houve tempo para pensar no assunto, pois nem base política ele tinha e com seu sucessor, Itamar Franco, a Presidência foi flagrada em ritmo de samba ao lado de uma atriz sem calcinha, FHC e Lula poderiam ter mudado tudo isso. O ex-presidente tucano, pela sua formação e referência mundial, que era, tinha por obrigação trazer a política ao eixo da ética. E nos oito anos seguintes, com o petista na presidência, cuja proposta deveria ser renovadora e a ética era uma bandeira, esperava-se a conclusão desse processo. Nada feito.

Está bom? Que fique
Vale lembrar que toda essa situação a tirar o sono dos brasileiros, tem origem nessa estrutura política fisiológica e clientelista e ninguém quis, até hoje, abrir mão dela. As alianças estão aí como prova disso tudo.  

É preciso encarar
Muitos vão me questionar por que essa análise num momento de transformações. É simples, se hoje vivemos uma expectativa real de mudanças, não as tivemos em todo esse período de redemocratização, a partir do fim da ditadura militar. Se o regime de governo mudou, a mudança mais importante, justamente a da estrutura política, não veio e os vícios são os mesmos. Apoio em troca de cargos e verbas. E até mesmo lobbies nada republicanos. E foram justamente FHC e Lula que tiveram as melhores oportunidades para isso. O bonde passou. Continuaram apostando no toma lá, dá cá. E gora não há mais clima nesse sentido.

O mérito de Dilma
E antes de imputar toda a culpa dessa confusão à Dilma Rousseff, que avançou o sinal em alguns pontos, é bom reconhecer o mérito da presidente, que jogou a discussão no ventilador. Foi a partir de suas primeiras declarações após o auge dos protestos, que muitos políticos se ligaram e perceberam que precisavam capitalizar também o momento, criticando-a - como fez a oposição - ou defendendo-a, como fez alguns de seus aliados diretos. A oposição, hoje, não indica perigo. Mas o fisiologismo da base aliada do governo e o próprio PT, sim.

Protestos esvaziados

Deixando o plano nacional, trazendo-o para o local, por aqui os manifestos se esvaziaram rapidamente. E para isso tenho uma explicação: assim como houve espontaneidade nas convocações via redes sociais, algumas pessoas em Limeira tentaram partidarizar o movimento. Eu havia previsto essa partidarização a partir das próprias redes sociais, o que acabou acontecendo. E os protestos viraram simplesmente um movimento de contestação política à administração Paulo Hadich (PSB) e, dessa forma, perdeu sua força inicial e isolou seus propósitos.  

Iniciativa importante
E no oceano de problemas que o prefeito enfrenta, a audiência pública sobre o transporte público, na quinta-feira, na Câmara Municipal, parece ter sido proveitosa. Entendo que foi um passo importante e sólido para melhorias no sistema, hoje um dos mais questionados em Limeira. Uma prestação de contas que a atual administração estava devendo, para mostrar que o trabalho está sendo executado. As cobranças, às vezes, deixam de ser objetivas e se tornam apenas política.

Pergunta rápida
A oposição tem propostas concretas para Limeira ou apenas discurso?

Ações transparentes
Assim como muitos municípios brasileiros estão fazendo, Limeira também precisa abrir essa caixa-preta, em que se transformou o transporte urbano. Para isso é preciso vontade política e, principalmente, coragem para enfrentar todos os lobbies do segmento. Durante a audiência pública sobre o tema, percebeu-se que a população está bem informada sobre as questões que envolvem as empresas do setor. Os usuários dos ônibus se transformam, assim, nos melhores especialistas e que precisam ser ouvidos mais vezes. É o interesse público que deve nortear as ações nesse sentido e não a simples lógica dos lucros. Isso é consequência. 

Nota curtíssima
O PSDB está em momento Rubens Ricúpero. Lembram-se? Aquele do "que é bom a gente divulga, o que não é esconde".

Para não esquecer
Vou terminar com esta nota, pois é necessário o registro. Na última quinta-feira, ao descer pela Carlos Gomes, Praça Toledo de Barros, parei na faixa de pedestre próxima da Conselheiro Saraiva, para dar passagem a uma família. Pai, mãe e uma criança estavam atravessando, quando simplesmente outro veículo - um Ecosport cinza - passou em alta velocidade e quase atropelou as três pessoas. A motorista tinha ampla visão e mesmo assim avançou. Irresponsabilidade que quase mata.

Frase da semana
"Dilma é a primeira líder mundial a ouvir as ruas". Manuel Castells, sociólogo espanhol e maior especialista em movimentos sociais nascidos na internet. Na quarta-feira, dia 3. Em entrevista à revista IstoÉ.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

E como está, fica...


O prefeito Paulo Hadich (PSB) viajou para a Ásia no início de seu mandato. E é Iracemápolis que anuncia a possível vinda de uma empresa coreana do setor de autopeças, que produziria para suprir a Hyundai, de Piracicaba. A informação foi publicada ontem nesta Gazeta.

Vem, não vem, vai

Por falar em Ásia. O silêncio sobre a Samsung, em Limeira, parece ter via de mão única. O da porta da saída do Município. A única marca do empreendimento, até agora, é uma extensa área terraplenada às margens da Via Anhangüera. A pergunta que fica é se tudo aquilo não teria sido uma jogada de marketing político do prefeito cassado Silvio Félix (PDT). Como ele foi embora antes, o depois deixou de existir. Em algum momento alguém terá que falar. Pelo sim ou pelo não.

Más notícias voam
Enquanto Limeira pode estar perdendo o seu aeroporto regional, para uma parceria entre Rio Claro, Cordeirópolis e Iracemápolis, o antigo aeródromo se transforma em ponto de tráfico e uso de drogas, conforme mostrou ontem a Gazeta de Limeira. A única coisa que não para de pousar por aqui é notícia ruim sobre notícia ruim.

Triste constatação
Esse isolamento de Limeira não é nada bom. Sem forças políticas influentes, o governo tucano simplesmente virou as costas para ao município. E ao que tudo indica, o governo federal, do PT, que tem no PSB de Hadich um dos componentes da base aliada, parece que começa a ficar cada dia mais distante. 

Diga que ele saiu
É preciso explicar a alguns secretários municipais, que eles devem, sim, satisfação à opinião pública. Estão sendo pagos com o dinheiro do contribuinte, para atender aos interesses públicos. Não pessoais ou partidários. Basta observar o esforço que os jornalistas fazem para obter respostas ou entrevistas. Tem secretário que quando procurado está sempre em reunião.

A última de hoje
Oposição é para fazer oposição. E contrariar, sempre, a situação. Não há outros propósitos senão estes. Os interesses político-partidários ficam sempre acima do bem comum. De interesses verdadeiramente públicos. Quando a oposição vira situação tudo se inverte e o ciclo recomeça. É hora de acabar com essa hipocrisia.

terça-feira, 2 de julho de 2013

O legado de junho e suas consequências

Junho se foi e, com ele, uma mudança no quadro político-administrativo brasileiro. De prefeitos e governadores a presidente da República, todos, indistintamente, experimentaram quedas expressivas em suas popularidades. E fica, também, a evidência de que alguns interesses se concentraram apenas em capitalizar as derrapadas de adversários, antes de voltar atenções para essa nova pintura que pinceis ávidos por transformações começam a esboçar, em traços fortes e bem definidos. Há nesse processo, ainda, incrédulos e analistas que tentam teorizar sem ouvir o que de fato dizem as vozes das ruas, pela inexperiência de nunca terem compostos em trincheiras como as que foram escavadas lá em meados do junho, por um grupo de jovens que protestavam contra o aumento nas tarifas dos transportes públicos sem as devidas melhorias na qualidade desses serviços. Manifestos já conhecidos de outras épocas históricas e por conotações também distintas das de hoje.
Fico me perguntando, desde que os primeiros jovens saíram às ruas na capital paulista, até então empunhando uma única bandeira reivindicatória, como se deu tamanha catarse? Que envolveu posteriormente a população e se expandiu rapidamente por outros estados, chegando aos municípios e também à capital federal? Confesso desconhecer uma resposta plausível. Prática. E que defina claramente essa "rebelião" popular. Só não valem, para definir os propósitos dessa massa que a cada dia agrega mais volume, teorias descritivas de movimentos políticos sociais, utilizadas por pensadores de laboratório, que nem sequer sabem que cheiro tem a tinta de um cartaz pintado com uma frase qualquer, que represente o descontentamento e a impaciência de cada cidadão, que foi se unindo em novas manifestações.
Por vários momentos, enquanto a configuração do movimento passava por atualizações rápidas e cada vez mais ousadas, questionei também a origem desse grito uníssono por uma nova ordem e postura no enfrentamento aos problemas nacionais. E as respostas - desta vez as tive - estavam no desespero estampado nos rostos dos agentes políticos, que estupefatos se perderam no labirinto que eles próprios construíram, para manutenção de um status de poder já nem tão sólido quanto antes. Estavam na correria em dar uma satisfação imediata às bandeiras reivindicatórias desfraldadas - agora mais complexas e pontuais - por um povo até então silencioso. Quase conformado. Confesso que cheguei até a avaliar que estávamos diante de um modismo, amparado pela Primavera Árabe e outros movimentos que se irromperam pela Europa.
Como junho se foi e as vozes continuam fortes, é preciso entender que há solidez nesse movimento. Uma avaliação que deveria pautar, daqui para frente, as próprias instituições político-partidárias para uma reciclagem imediata, sob o perigo de verem ruir, cada vez mais seus próprios alicerces. Nem PT e PSDB escaparam ilesos e agora correm atrás de um prejuízo, que só não foi maior, porque ainda há tempo para uma revisão nos seus próprios valores, para sintonizar seus sentimentos com os sentimentos populares. Qualquer antecipação na campanha eleitoral, a partir de agora, soará como oportunismo. E fomentará esse abalo, sentido pela queda de popularidade.