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terça-feira, 3 de maio de 2011

Quem deve comemorar?

A morte de Osama Bin Laden, o “terrorista” mais procurado do mundo, segundo a eufórica comemoração norte-americana, após anúncio oficial feito pelo presidente Barack Obama em rede de TV, ainda deixa dúvidas. Principalmente quanto ao paradeiro real do número “1” da Al Qaeda. Tudo muito rápido e fácil demais para se acreditar. Um exame de DNA comprobatório e um corpo jogado ao mar para evitar possível peregrinação ao túmulo de um mártir da causa islâmica é pouco nessa intrincada rede de informações e contrainformações, que vêm invadindo os lares de todo o mundo desde as primeiras horas de ontem.
Na hipótese de o fato ser verdadeiro - e tudo indica, até o momento, que é - as comemorações não extrapolaram fronteiras, como gostariam de ver os Estados Unidos. Manteve-se restrita ao meio oficial e povo norte-americanos, causando, no máximo, notas de apoio e congratulações de chefes de estado e de governos. Tímidos em suas aparições e justificativas, muitos líderes próximos e aliados de primeira hora da política intervencionista da América do Norte temem retaliações e, por isso, evitaram aparições midiáticas extremadas. A possibilidade de essas retaliações serem reais foi anunciada pelas agências de segurança e informações, mesmo desconhecendo-se o estrago que a morte de Bin Laden possa ter causado no seio de sua organização. Analistas experientes afirmam categóricos que Osama já não tinha tanta influência assim, a não ser pela sua imagem e seu significado com seus inimigos. E que morto, sim, pode ser perigo iminente.
O Brasil também se manifestou sobre o tema e foi muito feliz o chanceler Antonio Patriota ao expor o repúdio brasileiro a qualquer tipo de terrorista. Venha de onde vier, de organizações clandestinas e até mesmo de Estado. Sóbrio e focado, Patriota revelou que essa morte é uma centelha positiva nas manifestações que atingiram o mundo árabe por mais liberdade de expressão e democracia. Foi muito interessante e coerente essa postura, num momento de transição benéfica da forma de enxergar o mundo, que o Brasil está demonstrando na era pós-Lula. Mais pragmático e menos ideológico. O que revela avanços em sua política externa.
Escrevi recentemente neste espaço (Fomento ao ódio - 12/04/11), que na era da informação as “diferenças culturais, religiosas e políticas não deveriam mais interferir no globalismo” - não globalização - pela ausência de fronteiras, para contrapor recente investida da França contra a liberdade religiosa, num típico caso de terrorismo de Estado. Ao “libertar o mundo” de Bin Laden, os EUA deveriam repensar sua política intervencionista, que continua segregando e matando povos de várias nações. Para Barack Obama o louro dessa vitória é a certeza de sua reeleição em 2012, cuja campanha está sendo lançada oficialmente. Mera coincidência?

Antonio Claudio Bontorim

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