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terça-feira, 31 de maio de 2011

Nas mãos de Félix. Outra vez!

A queda de braço entre empresas do transporte público e sindicato de motoristas e cobradores mostra, mais uma vez, que o problema é crônico em Limeira. E provoca apreensão entre os usuários do sistema, sempre os mais afetados por uma situação que perdura há muito tempo no município. Afora as reclamações constantes pela deficiência do serviço, que é tema constante de matérias nesta Gazeta. Não dá para tapar o sol com a peneira e fazer de conta que tudo está uma maravilha, porque o dia a dia de quem precisa se locomover para o trabalho, aos hospitais e consultórios médicos ou em busca dos serviços bancários entre outros e se utiliza dos ônibus, prova justamente o contrário. Neste momento, em que você lê esta análise, uma nova greve pode estar ocorrendo. Quem sofre? O usuário!
Superlotação dos coletivos, atrasos nos horários e falta de carros em algumas linhas são as três principais carências, que há muito deveriam ser coisa do passado. Como cidade de médio para grande porte e pela capacidade econômica que tem, Limeira comporta um serviço de transporte público de qualidade. E as duas viações que atuam no setor deveriam ter mais comprometimento na prestação desse serviço e perceber que podem ser rentáveis e, ao mesmo tempo, oferecer qualidade aos seus “consumidores”, que hoje representam 25% da população limeirense. Entre 60 e 70 mil passageiros diários.
Se as relações de trabalho entre motoristas e cobradores com as empresas foram sempre difíceis e o conflito por vezes se torna inevitável - como agora -, o poder público que aparece como mediador precisa assumir seu verdadeiro papel, não apenas como árbitro desse impasse, mas como agente transformador do próprio sistema. Apesar de duas razões sociais diferentes, o que ocorre em Limeira, é um monopólio disfarçado. Uma partilha na fatia desse mercado, se não de forma equânime, mas que contempla interesses. De ambas. Se há distorções, foi o próprio poder público, ou concedente (o serviço é uma concessão), quem as criou.
Quando secretário dos Transportes do governo Paulo D’Andréa, no final dos anos 1980 e início de 1990, Sílvio Félix da Silva, o atual mandatário, foi quem quebrou o até então monopólio. O serviço, porém, que deveria melhorar consideravelmente em razão da concorrência, só piorou. Pelo crescimento do número de usuários e necessidade de novas linhas e, principalmente, falta de investimentos. Do Município e das empresas. Investir é, antes de tudo, contribuir com a melhoria dessa qualidade. Não há mais tempo para ações políticas de marketing. Félix tem, nas mãos, novamente, o poder transformador. Precisa apenas usar sua caneta!

Antonio Claudio Bontorim

2 comentários:

Eduardo disse...

Oi, Claudio. Parabéns pelo artigo. É bom - e importante - saber que existem pessoas que se preocupam com a eficiência da nossa administração pública. Queria fazer um comentário (com medo de parecer pedante, confesso) sobre a questão do "monopólio" no serviço de transporte coletivo.
Você, como jornalista, não tem obrigação nenhuma de conhecer esses princípios mais chatos da economia, mas eu resolvi dizer alguma coisa porque não é a primeira vez que vejo alguém fazer esta confusão. O próprio prefeito tropeça na teoria econômica quando diz que "quebrar o monopólio" da Limeirense foi algo muito importante.
A livre-concorrência é benéfica, sim, na maioria dos casos. No entanto, o transporte coletivo - assim como a maioria dos serviços públicos - configura um caso especial. Existe um fenômeno chamado "Economia de Escala", que faz com que, na produção de algum produto ou serviço em especial, exista uma relação inversamente proporcional entre o "tamanho" da empresa e sua participação no mercado e o custo médio de seus produtos/serviços, fazendo com que o menor preço com que a empresa pode trabalhar sem ter prejuízo diminua conforme a sua participação no mercado. Sendo assim, chega a ser recomendável que o governo garanta o direito de uma (ou poucas) firmas de explorar o mercado, ou que até mesmo explore ele mesmo aquele mercado, de acordo com a inclinação política.
No caso atual, em que a Prefeitura concede a duas empresas o direito de explorar este mercado, a maior preocupação do Poder Público deve ser a de fiscalizar o serviço ofertado, através de uma agência reguladora, por exemplo.
Resumindo, a Prefeitura concede DIREITOS às empresas, que não tem tido grande preocupação em cumprir seus DEVERES. Sendo assim, a maior culpada pelo atual estado do transporte público é a falta de ação do Poder Público - a falta de um Pulso Firme - e não o número de empresas atuando.

Antonio Claudio disse...

Obrigado por seu comentário. É sempre interessante poder contar com pessoas com capacidade de discutir determinados assuntos e levar o debate ao bom termo.
No caso da palavra monopólio, que citei no artigo, foi mais em sentido figurado da exclusividade de serviço e seus malefícios, do que propriamente o técnico. O que é permitido, levando-se em consideração a contextualização do processo em questão.
Trata-se de um tratamento comum dado a esse tipo de caso - embora não o seja de fato, e como citei, um "monopólio disfarçado", no sentido de que a operação quase exclusiva é, sim, prejudicial ao usuário.
Há certas situações que nos permite analogias e estas, como a que fiz - que talvez o prefeito talvez faça da mesma forma - para que o leitor possa entender de forma mais clara. Levando-se, é lógico, a definição da própria palavra monopólio (privilégio legal, ou de fato, que possui uma pessoa, uma empresa ou um governo de fabricar ou vender certas coisas, de explorar determinados serviços, de ocupar certos cargos, segundo o dicionário Houaiss) justamente como privilégio.
Gostei de seu comentário e, por favor, sempre que puder, participe com eles, para que possamos oferecer ao leitor um debate interessante e que é de interesse de cada um. De todos os cidadãos. Abraços.