Pages

terça-feira, 17 de março de 2015

Um recado para além do Planalto



“Fora Dilma”. “Fora PT”. “Impeachment já!”. “O PT roubou, o PT roubou...” (no ritmo daquela conhecida musiqueta cantada em estádios de futebol). Foram as palavras de ordem mais ouvidas, durante todo o domingo, 15, nas manifestações contra a presidente, o governo e o Partido dos Trabalhadores. Como se ninguém tivesse roubado antes em outros governos. Mas não é esse o foco do meu artigo de hoje. Mesmo porque seria, com essa analogia, cair na vala comum do “se os outros fazem, eu posso fazer também”. O que não vem ao caso e nem seria coerente com meus princípios. Também não pretendo vociferar contra a “elite branca”, apesar de saber da origem dos protestos, porque estamos num estado de direito, onde a liberdade de se expressar livremente é preceito constitucional e, por isso, tem que ser respeitada. E incentivada sempre que as oportunidades surgirem. Faz parte da democracia e, por isso, não pode nunca ser confundida com golpismo ou coisa semelhante. Eu vou gritar o que quiser (dentro do respeito e da educação, é evidente) e cantar o que quiser. E quero ser ouvido por isso. Mas é preciso também que saibamos ouvir o que os outros têm a nos dizer.
Vou propor uma reflexão sem viés partidário, como já fiz durante as manifestações de junho de 2013 e amplificar o recado do 15 de março para além dos muros do Palácio do Planalto. Se o “fora Dilma” e “fora PT” foi o mote das manifestações, que se espalharam por mais de 200 municípios brasileiros, assim como a ausência de bandeiras de partidos, em 2013, e, agora, a proibição de discursos de políticos de qualquer matiz ideológico, por parte dos organizadores dos eventos, extrapolam a classe política. E, mais uma vez, coloca na berlinda tanto a situação como a oposição – tímida e medrosa – que tentou capitalizar a insatisfação das ruas em seu próprio benefício. Pelo menos nos discursos pós-atos, o que não o conseguiram durante as passeatas. Tudo isso nos remete à falência da estrutura partidária atual. Dos partidos, que não se interessam pela reforma política (esse sim, deveria ser o verdadeiro propósito das manifestações). Trocar só as moscas, não elimina o mau cheiro. Senão, vejamos os exemplos dessa relutância. FHC teve oito anos para propor a reforma política e uma tributária também; não o fez. Lula teve mais oito anos para trilhar esse caminho, também ignorou a importância de ambas e, agora, Dilma, caminha na mesma direção. Já foram quatro anos e nenhuma proposta concreta. Efetiva.
E se, necessariamente, essas reformas passam pelo Congresso Nacional, é preciso que se mobilize também a opinião pública nesse sentido. Em 2013, após o auge das manifestações de junho, os discursos foram veementes e promissores. Ações concretas passaram longe. E ficou nisso. Quase dois anos depois, apesar das diferenças ideológicas dos manifestantes, tanto a situação quanto oposição precisam ouvir o barulho das ruas. E agir imediatamente para evitar que aventureiros se aproveitem das brechas e se assanhem com ideários ultrapassados. O modelo e a estrutura política brasileira estão ultrapassados. Os partidos políticos também.

0 comentários: