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terça-feira, 24 de março de 2015

Conversando com Cecília Meireles



“Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”. Escreveu Cecília Meireles. O debate é antigo, mas é sempre bom voltar a ele para que os preceitos de liberdade de expressão não morram pelas mãos de ditadores e tiranos. Ou mesmo pela atuação daqueles que defendem o conceito na teoria sem, de fato, praticá-los. Fica cada vez mais claro e óbvio, pela experiência que carrego pelos anos de profissão, que ainda não se aprendeu a verdadeira prática da discussão. De que opinião tem um significado bastante pessoal, que se torna coletivo a partir do momento em que mais gente converge para um determinado posicionamento e dessa forma se expressa. E que essa individualidade e coletividade são apenas divergências sobre ideias, cujo denominador comum deve ser o aprimoramento das relações humanas, independentemente de ser contra ou a favor. Não é um combate físico entre inimigos, no qual o que conta é um subjugar o outro, mas um embate no campo ideológico, que não pode ser transformado em troca de sopapos, apenas para exercer dominação. E essa divergência de opiniões é fundamental para que não se caia nas garras de uma unanimidade, que nem sempre é burra, mas traz grandes prejuízos quando exercida apenas para a manutenção do poder. Sem levar em conta a necessidade do contraponto ou sem os devidos questionamentos.
Além da liberdade, que é condição precípua, o expressar do pensamento exige também responsabilidade. Tanto de quem emite uma opinião como de quem dela diverge. Parece-me, e tenho percebido cada vez com mais frequência, que a intolerância com as opiniões contrárias está dividindo o ser humano em apenas dois grupos. Um do bem e outro do mal. Como se fosse possível conceituar o que um e o que é outro, sem cair na tentação da obviedade. Pensar contrário ao senso comum, hoje, é um pecado mortal e passível das mais duras reprimendas, como se aquele que assim o faz estivesse literalmente indo contra a humanidade. Defender uma opinião, que não esteja em concordância com o que a maioria pensa, hoje, é o mesmo que dizer que o verde é azul e o amarelo é vermelho. A situação está chegando a um certo ponto de irracionalidade, que o que deveria ser uma troca de ideias sadia, acaba virando briga de rua com consequências inimagináveis. Com a luz amarela acesa é preciso que retomemos os caminhos da razão.
Ninguém é melhor ou pior por simplesmente estar do lado oposto. Essa dualidade que rege o ser humano deveria, também, reger a conduta de cada um. Trata-se de se utilizar do bom senso em vez da hipocrisia. Tenho acompanhado com atenção as discussões em torno da epidemia de dengue em Limeira, anotando opiniões, através das quais percebo, em muitas delas, um debate desconexo da realidade. Um aproveitamento sórdido de uma desgraça anunciada para satisfazer egos e alavancar uma futura disputa política. Como escrevi no início, a expressão do pensamento é livre e individual, mas o respeito deve ser mútuo. Liberdade não se explica. Entende-se, como escreveu sabiamente Cecília Meireles. E é isso que está faltando nesse momento. 

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