O 31 de março representou,
durante toda minha infância e adolescência e, na universidade também (me formei
em 1978, ainda durante o então regime militar), um ritual anual de homenagens e
comemorações, com direito a Hino Nacional e bandeira sendo hasteada. Uma prova
de civismo às avessas, que a ditadura nos impunha, pouco se importando com os
gritos e gemidos que saiam das bocas de opositores, nos porões dos órgãos
oficiais de repressão. E, diuturnamente, eram torturados para que entregassem
outros mais. Escrevo ‘órgãos oficiais de
repressão’, porque eram aparelhos do Estado, que agiam conforme as ordens que
recebiam de seus superiores hierárquicos. Não eram clandestinos. Nunca foram e
sempre tiveram no comando um oficial fardado ou, então, um representante de
órgãos de seguranças civis, que também agiam no mesmo sentido.
Não estou aqui para lembrar dessa triste data, quando o poder constitucional foi usurpado em nome da segurança nacional e do perigo comunista que rondava a nação, conforme queriam fazer crer os protagonistas da guerra fria, travada entre o Ocidente capitalista, leia-se Estados Unidos , e a antiga União Soviética. A propaganda que chegava até nós, diga-se, tinha um só lado. O dos nossos vizinhos do Norte. Então não dava para fazer uma analogia precisa entre o que era bom ou ruim (ou bem e o mal) se apenas tínhamos acesso a um desses lados. Aquele que se autoproclamava do bem. Essa é apenas uma lembrança histórica, que é preciso reavivar sempre que algum aventureiro se expõe, publicamente, pedindo a volta dos militares ao poder. Com certeza herdeiros da “marcha da família com Deus pela liberdade” tentando tirar o pó de suas bandeiras da hipocrisia, que de liberdade não entendiam nada.
O momento é propício a esse tipo de reflexão, uma vez que as manifestações se arriscam às ruas, em protestos que fazem parte da democracia e, portanto, independentemente dos gritos de ordem e dos cartazes que carregam, são legítimos. Pode-se discordar deles, não, entretanto, dessa legitimidade. É essa convivência democrática entre opiniões opostas que vai reforçar ainda mais a nossa jovem democracia. Mesmo a despeito daqueles que sonham em trazer de volta um passado sombrio e de triste memória. Esquecem-se, esses “marcheiros”, que ao sair às ruas pedindo que os anos voltem ao chumbo, o fazem porque o regime democrático assim o permite. Garante a livre expressão do pensamento, mesmo daqueles que se oponham diametralmente à própria liberdade. Esquecem-se que os manifestos contrários ao governo militar, a partir do 31 de março de 1964, invariavelmente tiravam os tanques dos quartéis, trazendo-os às ruas. E levavam manifestantes à prisão. Ninguém foi preso no último dia 15 de março e os tanques não saíram às ruas. Muito pelo contrário, soldados brincavam de fazer selfies com crianças e adultos.
A história não vai apagar – e nem deve – os registros dos 21 anos da ditadura vivida entre 1964 e 1985. Já está sendo recontada com novos registros, daqueles que foram castigados e nunca ouvidos.
A não ser por gemidos e gritos de dor. Ela só não deve ser repetida. Hoje é 31 de março. E amanhã, primeiro de abril. Apenas uma sequência lógica do ano.
Não estou aqui para lembrar dessa triste data, quando o poder constitucional foi usurpado em nome da segurança nacional e do perigo comunista que rondava a nação, conforme queriam fazer crer os protagonistas da guerra fria, travada entre o Ocidente capitalista, leia-se Estados Unidos , e a antiga União Soviética. A propaganda que chegava até nós, diga-se, tinha um só lado. O dos nossos vizinhos do Norte. Então não dava para fazer uma analogia precisa entre o que era bom ou ruim (ou bem e o mal) se apenas tínhamos acesso a um desses lados. Aquele que se autoproclamava do bem. Essa é apenas uma lembrança histórica, que é preciso reavivar sempre que algum aventureiro se expõe, publicamente, pedindo a volta dos militares ao poder. Com certeza herdeiros da “marcha da família com Deus pela liberdade” tentando tirar o pó de suas bandeiras da hipocrisia, que de liberdade não entendiam nada.
O momento é propício a esse tipo de reflexão, uma vez que as manifestações se arriscam às ruas, em protestos que fazem parte da democracia e, portanto, independentemente dos gritos de ordem e dos cartazes que carregam, são legítimos. Pode-se discordar deles, não, entretanto, dessa legitimidade. É essa convivência democrática entre opiniões opostas que vai reforçar ainda mais a nossa jovem democracia. Mesmo a despeito daqueles que sonham em trazer de volta um passado sombrio e de triste memória. Esquecem-se, esses “marcheiros”, que ao sair às ruas pedindo que os anos voltem ao chumbo, o fazem porque o regime democrático assim o permite. Garante a livre expressão do pensamento, mesmo daqueles que se oponham diametralmente à própria liberdade. Esquecem-se que os manifestos contrários ao governo militar, a partir do 31 de março de 1964, invariavelmente tiravam os tanques dos quartéis, trazendo-os às ruas. E levavam manifestantes à prisão. Ninguém foi preso no último dia 15 de março e os tanques não saíram às ruas. Muito pelo contrário, soldados brincavam de fazer selfies com crianças e adultos.
A história não vai apagar – e nem deve – os registros dos 21 anos da ditadura vivida entre 1964 e 1985. Já está sendo recontada com novos registros, daqueles que foram castigados e nunca ouvidos.
A não ser por gemidos e gritos de dor. Ela só não deve ser repetida. Hoje é 31 de março. E amanhã, primeiro de abril. Apenas uma sequência lógica do ano.