Pages

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Título de eleitor não é cartão de crédito

Parece que ninguém aprende com as lições passadas. Os mesmos erros de sempre estão no presente e, consequentemente, não serão corrigidos no futuro. Muito embora a percepção de alguns “maus alunos” aponte para o conhecimento da prática adequada, a teimosia é maior do que a necessidade de fazer o certo. A insistência num discurso de aparências e politicamente correto, que sai fluente, tem óbvia negação na sua própria aplicação. Esconde as rugas do envelhecimento com maquiagem carregada, que sai numa simples lavada. Vai para o ralo no primeiro borrifo de água. E, com ela, a decepção de perceber que a beleza era artificial e corrigida com camadas e mais camadas de uma superficialidade sobreposta, para tentar ocultar a realidade. E só se percebe que a compra foi equivocada quando não há possibilidade de devolução do produto, que tem prazo de validade, mas até lá todos estarão sujeitos aos efeitos nocivos dessa aquisição. Fruto de uma propaganda enganosa que se renova a cada quatro anos e, aqueles que deveriam se beneficiar por essa escolha, acabam sendo traídos em sua confiança ao comprarem apenas embalagem, esquecendo-se do conteúdo.
No próximo dia 5 de outubro, a menos de um mês, portanto, como consumidores ávidos por novidades ou até mesmo para continuar fiel ao produto que já dispomos estaremos, todos, de volta às compras. Após um longo período de exposição das mais variadas marcas e com garantias que ainda desconhecemos – algumas inclusive já vencidas ou prestes a vencer – a decisão tem o som e a rapidez de um simples apertar de teclas, após a seleção da mercadoria que, acreditamos, possa nos satisfazer e às nossas necessidades bem como de toda uma nação, que renova seu estoque periodicamente, sempre imaginando que desta vez não será enganada.
A grande dúvida é se fomos devidamente informados sobre as características daquilo que estamos adquirindo. O discurso muitas vezes indica para o acerto, mas a prática não garante que seu funcionamento não venha apresentar avarias durante sua utilização. Hoje, infelizmente, não dá para dissociar uma eleição, em seus mais diversos níveis, de uma simples compra de supermercado. Temos as gôndolas cheias e só poderemos optar por um, entre os tantos que estão à nossa disposição. E de variedade, forma e apresentação tão diversificadas, para no final ficarem com a mesma aparência. Tudo moldado em uma mesma forma, o que dificulta sobremaneira as nossas decisões. E quando chegamos a esse ponto é porque alguma coisa está errada. Se a convicção não nos acompanha e há um ceticismo exagerado, isso é reflexo da falta de qualidade, como componente às grandes cadeias de lojas e o que querem nos vender. Essas cadeias representadas pelos partidos políticos e os produtos pelos candidatos que estão nas vitrines. O título de eleitor não pode ser confundido com “vale-compra” ou cartão de crédito. E nem o destino de um povo como fatura por uma opção equivocada.

0 comentários: