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sábado, 14 de julho de 2012

Virando a página da história

Limeira perde, com a morte da vereadora Elza Sophia Tank Moya (PTB) seu último líder político de uma escola em extinção, que pede, urgente, renovação em tudo. De atitude a estilo. E os que ainda se sustentam sob seus próprios mitos, com certa dose do vil coronelismo, aos poucos perdem credibilidade. Não conseguem impor nenhum tipo de liderança, senão pela força econômica. A vereadora era a última remanescente de um quarteto, que se apresentou pelos palcos do poder, de 50 anos para cá. De meados da década de 60, em diante, quando passaram pela vida pública na terra dos laranjais e das laranjas - e não "dos laranjas" - figuras como Paulo D'Andréa, Jurandyr Paixão e Waldemar Mattos Silveira, o Memau.
Pode-se (e deve-se obrigatoriamente) discordar de seus métodos - neste caso incluo os quatro - e maneira de governar. Ou como lidavam com o poder e dele faziam uso. Não se pode negar, entretanto, o que representaram (e vão representar na história política limeirense) para o município, que viveu essas lideranças, adversários ferrenhos nos embates. Elza foi a última a surgir, ainda à sombra de Jurandyr Paixão, assim como Memau, à esteira de D'Andréa. Conseguiram, porém, desvencilhar-se de seus criadores e brilharam com luz própria, enquanto viveram.
Em férias de minhas atividades profissionais, não foi surpresa a morte da vereadora. Acompanhava, como jornalista e também como morador no mesmo prédio, o périplo da agora ex-vereadora de seu apartamento ao hospital e vice-versa. Era um cenário constante. Cheguei a conversar com ela algumas vezes já doente, porém nunca expus - e também não há mais razão para isso - o teor dessas conversas. Apenas percebia seu sofrimento, além da vontade de viver.
Ela sempre teve um pé atrás e os dois na frente com minha atuação profissional, nas várias mídias por onde exerci o jornalismo. Eu também não concordava com seus métodos e artimanhas, mas de certa forma nos respeitávamos, dentro de nossas atividades. Suas críticas como eu conduzia minhas opiniões e textos vêm de longe. De 1984 para cá. Às vezes pessoalmente e às vezes em correspondência à direção da empresa, como aconteceu pela última vez em 2009, quando reclamou oficialmente, em carta, que hoje guardo comigo seu original.
Decidi, então, que seu nome seria riscado de meus escritos. Como foi. Como decidi, também, nunca explorar aquilo que eu presenciava diariamente, após a descoberta de sua doença. Questão de consciência ou sei lá o que. Apesar das férias e do desligamento da atividade diária nesse período, sou um jornalista. E jornalista, não sei se felizmente ou infelizmente, nunca consegue deixar de exercer seu ofício. Pelo menos aqueles que, como eu, têm na veia o sangue que corre nessa direção e na vida a paixão por aquilo que faz.   
Não estou aqui para fazer loas ou exaltar a vida pública e política de Elza Tank. Muito pelo contrário e por nossas diferenças ideológicas e práticas. É que morto, independentemente de quem seja, costuma virar santo a caminho da canonização e não é essa minha intenção. E sim para lembrar o exercício de sua liderança e que Limeira não tem, daqui para frente, nenhum líder político do tamanho daqueles que citei neste artigo temporão. E não terá tão em breve assim. O que se pretendia como nova promessa e poderia entrar para esse seleto rol, daqueles que conseguem escrever seu nome na história, manchou com um negro borrão seu currículo. Sua trajetória. E está definitivamente apagado das páginas de fatos, feitos e recordações, que deveriam ser legados às gerações vindouras.
E os que estão ai, neste momento, na disputa dessa eleição atípica, não exercem a devida liderança e sequer têm uma sequela de carisma que seja. Estão apenas na disputa política pelo poder, cujos direitos de assim pleitearem não podem se negados. E antes de se tornarem líderes (pois não o são de natureza) precisam se portar como tal. É hora, então, de virar essa página da história política de Limeira. Encerrar mais um capítulo de um grande livro que recebeu as primeiras letras em 1826 e que se seguirá sendo escrito pelos tempos futuros. E por outros que virão. E outros. E outros e mais outros. Que assim seja.

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