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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A cena de um crime bárbaro

A morte violenta e premeditada do empresário limeirense Odair Zambom na semana passada, simplesmente tirou o chão dos nossos pés. Se vivemos constantemente sob um clima de aflição e insegurança urbanas, eis a beira do precipício. E longe de qualquer solução aparente, que não passe antes pela reestruturação do sistema de segurança pública e pelo reordenamento da estrutura econômica e social, que apesar de alguns avanços, ainda patina na incompetência do poder público. Em todos os níveis de comando. E quando me refiro a esse tema, não estou apenas vislumbrando novos presídios ou punições mais rigorosas. Da prisão perpétua à pena de morte defendida por muitos. Penso, antes de tudo, na formação do caráter do ser humano, que começa desde o choro de estreia neste mundo, ao deixar o ventre da mãe, até os primeiros anos no convívio familiar e, posteriormente, na educação que vai receber, como complemento, na escola.
Ainda na semana passada, esta Gazeta trouxe matéria interessante sobre as novas funções do professor, que vem assumindo o papel também de família da criança, do jovem ou adolescente, às vezes substituindo os próprios pais, quando mostra caminhos, que deveriam estar sendo preparados no lar de cada um. É possível que se vislumbrem, mais à frente, algumas distorções ainda não corrigidas, que continuam passando pela falta de oportunidades nesse desenvolvimento. Atribuir somente a isso tamanho desrespeito para com a vida, ao imaginar a tragédia que vitimou o empresário e todas suas causas e consequências, entretanto, é ser ingênuo demais. É não querer enxergar a patologia do crime que, em muitos casos, passa longe desse discurso sociológico e se torna uma séria e complexa questão de desmoronamento dos valores éticos e morais do homem. Tema discorrido por estudantes no 21º Prêmio Literário Gazeta de Limeira e que expõe todas essas condições aqui analisadas. É a banalização da vida, cujo valor é estipulado de acordo com o tamanho da encomenda.
A cronologia desse bárbaro crime pode, sim, ter começado na falta de todos esses pré-requisitos. Só não pode mais ser estudada apenas sobre essa ótica. Um círculo vicioso que começa a se fechar com a desestruturação familiar, ao não cultivar mais seus valores, que não são de antigamente, mas que condicionam ao entendimento da coletividade e ao convívio da plena harmonia. Na escola, sem essa carga referencial familiar, o aluno se revolta contra o professor que quer lhe impor os limites, que agredido, às vezes, não tem mais autoridade para decisões firmes, que o Estado lhe tirou, sem uma contrapartida. Desse ponto em diante a história é conhecida e o desfecho é imprevisível. Ou tão previsível, que não conseguimos enxegar seu alcance. Está pronta, portanto, a cena de um crime, que vai se repetir. Outras e muitas vezes mais! Lavar as mãos é mais fácil que assumir responsabilidades. Resumo óbvio de um trágico enredo!

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